
Guiando investidores e autoridades latino-americanas rumo ao hidrogênio verde

A América Latina possui uma riqueza de oportunidades na esfera do hidrogênio verde. Os países mais bem posicionados para aproveitar a onda são aqueles com planos e estratégias definidos, ambientes favoráveis a investimentos e, principalmente, potencial abundante em energia limpa.
Entre as empresas que ajudam autoridades e investidores a explorar esse mercado nascente está a consultoria internacional de estratégia Hinicio.
Para se aprofundar no que a Hinicio faz e explorar a situação na América Latina, a BNamericas conversou com sua gerente regional de desenvolvimento de negócios e consultoria estratégica da empresa, Nuria Hartmann.
BNamericas: Você poderia falar um pouco sobre a Hinicio e que tipo de serviços sua empresa oferece na região?
Hartmann: A Hinicio é uma empresa de consultoria estratégica especializada em energia renovável, transporte sustentável, estratégias de descarbonização e transição energética.
Desde 2006, desenvolvemos e consolidamos habilidades e conhecimentos inéditos focados em hidrogênio e células de combustível e, portanto, é reconhecido globalmente como um dos principais fornecedores de serviços de consultoria, especialmente na Europa e nas Américas. De acordo com nossa visão, o hidrogênio renovável desempenha um papel crucial nos futuros sistemas de energia para atender às metas de redução de emissões. Assim, assumimos a missão de aconselhar e apoiar os nossos clientes como um aliado de confiança na criação de estratégias, projetos e políticas de sucesso, de forma a acelerar a transformação dos sistemas energéticos incorporando tecnologias limpas. Nosso sucesso se reflete no reconhecimento do nosso trabalho com o Prêmio de Melhor Provedor de Serviços da Indústria de Hidrogênio obtido no evento H2LAC 2022.
Nossa sede está localizada em Bruxelas, na Bélgica, e temos escritórios na França, Holanda, Chile, Colômbia e EUA, além de representação comercial no México e na China. Há mais de 15 anos, nossa equipe multidisciplinar assessora clientes do setor público e privado em suas estratégias de descarbonização e apoia os desenvolvedores de projetos Power-to-X na otimização de seus projetos com uma perspectiva holística, incorporando aos aspectos tecnológicos também econômicos, dimensões social e ambiental com uma abordagem sustentável.
Para responder à dinâmica do mercado, dispomos de quatro linhas de negócio: consultoria de negócios e estratégia, assistência ao desenvolvimento de projetos, M&A e apoio ao investimento, bem como apoio a políticas e regulamentação.
Temos ampla experiência na elaboração de estratégias e roadmaps de descarbonização com foco em hidrogênio renovável (H₂) e eletromobilidade, estudos de mercado, treinamentos corporativos de hidrogênio, identificação de oportunidades de negócios, suporte no desenvolvimento de projetos por meio de estudos de pré-viabilidade, dimensionamento e otimização de configurações de plantas, diligência em projetos de Power-to-X, bem como análises regulatórias e consultoria sobre aspectos de certificação de hidrogênio. Além disso, temos um histórico reconhecido em assessoria a entidades públicas sobre políticas e regulamentação de hidrogênio e na identificação de modelos de negócios e assessoria em fusões e aquisições relevantes para a economia do hidrogênio.
BNamericas: Com relação à nascente indústria de hidrogênio verde na América Latina, parece que Chile, Brasil, Uruguai e Colômbia são os países mais avançados da região. Por quê? Você prevê alguma mudança nos próximos dois ou três anos?
Hartmann: Nos últimos três anos, houve um desenvolvimento muito dinâmico do mercado de hidrogênio em vários países da região da ALC [América Latina e Caribe]. Isto assenta, sobretudo, em dois aspetos: primeiro, num forte impulso do setor público, por meio da publicação de planos nacionais; e segundo, no desenvolvimento progressivo de projetos de hidrogênio e derivados. Junto com isso, a criação dos primeiros polos de hidrogênio na região: no Chile, os polos das regiões de Antofagasta, Biobío e Magalhães; o polo de H₂ no Ceará, Brasil, bem como La Guajira, na Colômbia.
De fato, Chile, Uruguai e Colômbia se destacam pela existência de planos com metas ambiciosas de desenvolvimento de mercado, acompanhados por diversas políticas públicas de promoção. O Brasil ainda não tem um plano nacional, mas não fica muito atrás se olharmos para o panorama de desenvolvimento de projetos: vários projetos Power-to-X foram anunciados e há uma oportunidade de demanda local muito interessante para o hidrogênio renovável e seus derivados impulsionados por um mercado relativamente grande.
O Chile ainda pode ser considerado um líder nesses desenvolvimentos, mas o Brasil está avançando muito – é o primeiro país da ALC a apresentar recentemente uma proposta concreta de certificação nacional de hidrogênio.
Nosso Índice H2LAC anual, que a Hinicio desenvolve com a New Energy Events, fornece detalhes específicos sobre os desenvolvimentos atuais do mercado, compara o desempenho dos países da região e seu status quo de um ano para o outro.
BNamericas: Em relação ao projeto Haru Oni, na região chilena de Magalhães – que acaba de entrar em operação –, que sinais isso traz para o mercado chileno, ou seja, qual a importância do lançamento?
Hartmann: Embora o projeto Haru Oni seja um projeto de demonstração (com um upscale muito grande planejado para o futuro), acreditamos que dará sinais positivos ao ecossistema, pois o projeto reúne condições muito interessantes para a transição energética, como inovação tecnológica em processos de produção e extração de CO₂, operando fora da rede, e um produto 100% renovável de geração eólica.
Além disso, envolve a exportação de e-combustíveis e já conta com o comprador para o primeiro volume de produção. Outro fator interessante é a colaboração privado-privada entre diferentes atores da cadeia de valor H₂ e derivados, gerando sinergias valiosas para o desenvolvimento e operação do projeto.
Haru Oni não é um caso isolado, na região existem cerca de 90 projetos em diferentes estágios de desenvolvimento, sendo Chile, Brasil e Colômbia os países com maior número de empreendimentos. Tais projetos são bastante diversos tanto em escala e configuração quanto em termos de mercados-alvo para seus produtos. Há muita expectativa em relação à produção e exportação de H₂ renovável e seus derivados – a região não fica atrás de outras regiões do mundo!
BNamericas: Hoje, em relação ao hidrogênio verde, quais são as barreiras ou desafios mais importantes na região?
Hartmann: Os desafios ou oportunidades – para dar uma conotação positiva – são diversos, mas os mais importantes na nossa percepção são: a criação de demanda, ou seja, que existam compradores que hoje estejam dispostos a consumir H₂ renovável e seu derivados, apesar de que seu preço em vários casos ainda ser mais alto em comparação com as soluções normais.
Esse aspecto está intimamente relacionado ao acesso a financiamento – ainda é um desafio para os desenvolvedores de projetos obter financiamento [de bancos comerciais], devido aos riscos que esses novos projetos acarretam. Aqui também vale a pena mencionar que o financiamento público fornecido em países da região, em comparação com os fundos que existem em outras regiões geográficas como Ásia, Austrália, Europa e EUA para promover o desenvolvimento deste tipo de projetos, é relativamente baixo.
Uma grande questão atual também é a logística de transporte de grandes equipamentos e componentes de usinas, principalmente para regiões remotas como a Patagônia, bem como sua disponibilidade – a aquisição de eletrolisadores, por exemplo, deve ocorrer com vários meses de antecedência, pois as capacidades de produção ainda são limitadas.
A ALC também apresenta o desafio de desenvolver projetos sob critérios ambientais sustentáveis e ceticismo social – os projetos precisam mudar a conotação de extrativismo, cumprindo a integração precoce das comunidades e garantir benefícios desses projetos para a própria região para apoiar a descarbonização local e criar valor econômico local.
Outro aspecto desafiador é a questão da certificação de moléculas “verdes”. Pensando no cenário global, já existem diversos sistemas de certificação em desenvolvimento ou já em operação. O European CertifHy System é um deles e a Hinicio é a coordenadora deste sistema desde 2014, o que nos proporciona um profundo conhecimento sobre o desenho e implementação de sistemas de certificação e os desafios que isso implica, especialmente quando pensamos em mercados globais harmonização de esquemas de certificação ou entre países de uma região.
BNamericas: Parece que, na região, os primeiros projetos operacionais serão voltados para compradores locais, não para o mercado externo. Como você vê o desenvolvimento do mercado?
Hartmann: Nos últimos anos, vimos anúncios de projetos de grande escala com foco no mercado de exportação na região. No entanto, se forem consideradas as barreiras e os desafios que surgem ao implantar o mercado de hidrogênio renovável e/ou derivados na ALC, a inclusão de compradores locais pode reduzir o risco do projeto e acelerar sua implantação.
Os projetos com compradores locais geralmente são de menor escala do que os de exportação e, portanto, os tempos de desenvolvimento e construção são mais curtos. O fator chave desse tipo de projeto com compradores locais é que permitiria uma ação mais rápida e antecipada para fechar lacunas regulatórias, de bancabilidade e financiamento, entre outros desafios, e assim obter lições aprendidas e ajudar a orientar a criação de regulamentação pendente.
BNamericas: Ao comparar o desenvolvimento de projetos de hidrogênio verde na Europa com a ALC, quais diferenças você observa em termos de infraestrutura e terreno?
Hartmann: Projetos de hidrogênio renovável e/ou derivados, ao exigirem uma fonte de energia renovável como solar fotovoltaica ou eólica, exigem grandes áreas para a geração de eletricidade para operações em escala comercial. Considerando isso, vemos que, ao contrário da Europa, na ALC há uma quantidade maior de terras e áreas disponíveis para o desenvolvimento dessa infraestrutura. Pelo exposto, vemos que um aspecto fundamental no desenvolvimento dos projetos é a seleção do melhor local, mas que não se concentra apenas na escolha da área com o melhor recurso renovável, mas também incorpora outros critérios, como disponibilidade de fontes sustentáveis de água, infraestrutura básica e eletricidade, disponibilidade de servidões para dutos de hidrogênio, tipo de uso do solo que permite o desenvolvimento deste tipo de projetos e que não afetem áreas ou reservas protegidas, características topológicas do terreno, não provocar conflitos de uso do solo, entre outros.
Nos últimos anos temos observado que esta avaliação do melhor terreno e da sua “elegibilidade” é muito relevante e crítica no desenvolvimento de projetos de hidrogênio renovável e/ou derivados, refletindo grande interesse por parte de diferentes clientes. Assim, na Hinicio já ajudamos vários de nossos clientes em diferentes países da região com nosso serviço chamado Land Eligibility Assessment [Avaliação de Elegibilidade do Solo, em tradução livre], o qual, por meio de um software de análise geoespacial, nos permite definir áreas com maior vantagem específica para cada projeto de hidrogênio renovável e/ou derivado, dependendo de seu produto final e uso, bem como escala, entre outros aspectos.
BNamericas: Vocês estão observando alguma tendência de projetos na região? Por exemplo, há mais interesse em certos tipos de derivados – por exemplo, projetos que alavanquem a infraestrutura existente e já possuam compradores, como a indústria de mineração?
Hartmann: Não há uma tendência clara e depende muito do tipo de produto que o comprador final precisa. Agora, se nos concentrarmos em projetos de exportação, vimos um aumento nos projetos de amônia renovável, porque permitem a reutilização de toda a infraestrutura de amônia “cinza” existente para transporte, armazenamento e distribuição. Além disso, existe um grande potencial de substituição da amônia cinza, utilizada em indústrias como fertilizantes para agricultura e explosivos para mineração, por amônia renovável produzida com hidrogênio renovável, descarbonizando o escopo 1 (hidrogênio como combustível para o transporte de minerais, no caso de mineração) e emissões de escopo 3 (emissões indiretas de explosivos, entre outros) dessas indústrias. Além disso, existem novos mercados premium que estão sendo desenvolvidos, por exemplo, para aplicar amônia como combustível na indústria naval, o chamado bunkering.
Dado o importante papel que a amônia renovável está assumindo hoje para a descarbonização de indústrias e sistemas de transporte, identificamos a necessidade da existência de esquemas de certificação que permitam o comércio global alavancado na cadeia de abastecimento existente de amônia. A certificação garantirá o cumprimento das metas de descarbonização impostas por regulamentações locais e internacionais, e permitirá que os consumidores verifiquem a origem e a pegada de emissões da molécula.
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