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Análise

A situação dos projetos de dessalinização no Brasil

Bnamericas
A situação dos projetos de dessalinização no Brasil

À medida que as secas ameaçam tornar-se mais comuns, os países passam a enxergar a dessalinização como possível solução, mas a viabilidade de tais projetos não está garantida no Brasil, onde a água doce segue abundante.

A BNamericas conversou com players do setor para obter mais informações sobre o potencial do negócio.

Pátria Investimentos

O Pátria Investimentos controla a Aguas Pacifico, que está desenvolvendo a usina de dessalinização do Aconcágua, no Chile, a qual visa resolver a escassez de água na região agrícola.

“Vemos o setor [da dessalinização] se expandindo gradativamente na América Latina e a explicação para isso é simples: precisamos ter água disponível para consumo humano e para a indústria. Decidimos iniciar nossos investimentos em dessalinização no Chile porque o país enfrenta um grave falta de água e nossa solução ali produz 1.000 l/s [litros por segundo], além de reduzir a necessidade que existia antes de transportar água em caminhões-pipa para atender a indústria”, disse à BNamericas Marcelo Souza, sócio e head de estratégia de infraestrutura energética do Pátria.

“Vejo uma forte demanda por projetos de dessalinização no Chile e é um dos países que mais investe nesse setor. No Brasil não há tanta escassez de água como no Chile, mas vamos olhar o potencial daqui, apesar de haver muita água doce disponível”, acrescentou.

Usina no Ceará

As obras da maior usina de dessalinização para consumo humano do Brasil estão previstas para começar no início de 2024, com operações previstas para 2026. A usina deverá beneficiar 720 mil moradores da capital do estado, Fortaleza. O capex é de R$ 600 milhões (US$ 120 mi).

A Águas de Fortaleza, um consórcio liderado pela empresa de infraestrutura Marquise, está liderando o projeto com o apoio da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).

“Com o avanço das plantas de dessalinização no Brasil, que vemos como um caminho sem volta, haverá necessidade de se discutir regulações específicas. Conseguimos produzir uma água com qualidade elevadíssima e atender à toda regulamentação nacional e internacional, mas é necessário avançar na regulação do descarte dos rejeitos. No Brasil, a salmoura ainda é muito mistificada, é preciso conhecer para não temer. A criação de parâmetros nacionais específicos para esse descarte é importante”, afirmou à BNamericas Renan Carvalho, diretor da Marquise.

No entanto, a usina enfrenta resistência das operadoras de telecomunicações, as quais alegam que a construção pode danificar os cabos submarinos que pousam na praias próximas. O estado é um polo de internet e destino da maior parte dos cabos que atendem ao Brasil.

IFC

A dessalinização parece viável apenas em algumas partes do Brasil.

“A discussão sobre eventuais projetos de dessalinização de água vem ganhando corpo nos últimos anos e há duas situações nas quais esses projetos podem vir a ser interessantes. A primeira é no Nordeste semiárido, muito dependente de águas subterrâneas, que frequentemente têm níveis de salinidade acima do adequado para potabilização e usos agrícolas.  Também para diversas cidades no nordeste do país se discute a viabilidade de dessalinização, especialmente no litoral, com foco na água do mar”, explicaram à BNamericas Stela Goldenstein, consultora de água da IFC, e Diogo Bardal, diretor associado de operações da IFC no Brasil, em uma entrevista conjunta por e-mail.

“Não há ainda estimativas disponíveis sobre volume de água que seria interessante para viabilizar projetos de dessalinização.  É estimativa de difícil formulação, especialmente porque o uso que hoje se faz da água doce disponível, e que seria parcialmente substituída por água dessalinizada, é frequentemente perdulário, seja pelas perdas de água nos sistemas de abastecimento, seja pelas cargas de poluição lançadas nos rios, seja ainda pelo uso irracional nas atividades produtivas e domicílios”, acrescentaram.

BAHIA

Embora os custos da dessalinização tenham diminuído, ainda representam uma barreira à entrada do setor público.

“Não é tão simples viabilizar uma PPP para dessalinização porque, na verdade, esses projetos ainda são caros. Portanto, a viabilidade de uma PPP, na perspectiva do governo, precisa ser bem avaliada caso a caso”, declarou à BNamericas o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues.

A Bahia está entre os estados que apresentam altas temperaturas e poucas chuvas todos os anos.

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