O que o alívio das sanções dos EUA significa para a Venezuela

À primeira vista, a decisão do governo dos EUA de suspender algumas sanções à Venezuela representa uma grande vantagem para o governo autoritário do país sul-americano.

A Casa Branca revogou uma série de restrições – a maior parte relacionada com a indústria de petróleo e gás – na noite da última quarta-feira (18), depois de o regime de Nicolás Maduro ter chegado a um acordo com os partidos de oposição para permitir a realização de eleições competitivas e monitoradas internacionalmente no ano que vem.

A concessão mais significativa foi uma licença geral emitida pelo Departamento do Tesouro dos EUA que permite que a Venezuela produza e exporte petróleo sem restrições durante os próximos seis meses.

“Foi um incentivo ao qual Maduro não resistiu”, comentou Francisco Monaldi, especialista em política energética da América Latina da Rice University, em Houston, em bate-papo com a BNamericas nesta quinta-feira.

“O maior benefício em curto prazo, em um ano eleitoral, é vender petróleo pelo preço integral no seu mercado mais lucrativo [os EUA], em vez de vender com grandes descontos no mercado paralelo chinês, e sem a necessidade de pagar dívidas.”

A Venezuela, que possui as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, viu a produção de petróleo despencar nas últimas duas décadas, à medida que a empresa estatal PDVSA era devastada por anos de má gestão, corrupção e sanções paralisantes.

Para analistas, a decisão do governo Biden pode abrir caminho para até 300.000 b/dia de produção adicional nos campos petrolíferos venezuelanos nos próximos dois anos.

“Sem estar sujeita às cotas da Opep, agora a PDVSA está em uma rodovia livre de tráfego”, disse a jornalista venezuelana Marianna Párraga no X, antigo Twitter. “Porém, reduzida após décadas de investimento insuficiente e má gestão, a grande questão hoje é: o que ela conseguirá fazer para tirar proveito disso?”

A PDVSA estaria lutando para retomar os contratos de fornecimento de petróleo para aumentar rapidamente os cofres estatais esgotados, sabendo que as sanções suspensas na quarta-feira poderiam ser restabelecidas.

Uma empresa estrangeira que pode se beneficiar disso é a Chevron, que recebeu uma licença dos EUA em novembro para relançar operações petrolíferas na Venezuela.

Outros produtores que devem ganhar com a decisão incluem Eni, Maurel & Prom, Repsol e a chinesa CNPC, todas com participações em blocos locais de petróleo e gás.

Mas os efeitos em cascata do anúncio dos EUA devem ser mais evidentes na esfera política da Venezuela.

“Maduro não tem dinheiro e precisa [das receitas do petróleo] para gastar em um ano eleitoral”, apontou Monaldi, acrescentando que Washington estará observando de perto para ver se os presos políticos serão libertados e se os opositores políticos banidos serão autorizados a participar das eleições no final de 2024.

Mesmo que essas exigências não sejam cumpridas, Maduro pode ganhar tempo suficiente para garantir vantagens inesperadas potencialmente decisivas na campanha eleitoral.

Analistas acreditam que Maduro usará as novas receitas do petróleo para reforçar sua máquina de propaganda enquanto tenta dividir a oposição. E ele não terá pressa para cumprir integralmente as exigências da Casa Branca de eleições livres e transparentes.

“Vamos supor que daqui a seis meses Maduro sinta que não conseguirá vencer as eleições de maneira justa – ele poderá enfrentar as sanções novamente”, disse Monaldi. “Acho que ele acredita que continuará tendo a licença [de produção e exportação de petróleo] por mais de seis meses, já que a decisão final que ele tem de tomar seria posterior, pois as eleições provavelmente serão em novembro ou dezembro de 2024.”