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BCIE está pronto para aproveitar oportunidades do nearshoring na América Central

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BCIE está pronto para aproveitar oportunidades do nearshoring na América Central

Em dezembro, a costarriquenha Gisela Sánchez assumiu a presidência do Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE) por um período de cinco anos.

A BNamericas conversou com Sánchez sobre os planos para lidar com fenômenos como o nearshoring e os desafios enfrentados pela instituição, que foi questionada durante a administração passada pelos empréstimos concedidos à ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua.

BNamericas: Como você encontrou o BCIE ao assumir a presidência?

Sánchez: De modo geral, com muitas oportunidades e pontos fortes. Diria também que, como qualquer organização, encontro oportunidades de melhoria: ser mais eficiente no uso dos recursos, oferecer as melhores condições para os países que atendemos, maximizar o impacto que temos nos países, focar mais na excelência operacional e na transformação digital, entre outras.

Essa análise permitiu que eu me concentrasse em duas prioridades de curto prazo e outra mais de longo prazo. As duas questões de curto prazo são a transparência e a responsabilização: como podemos reforçar e demonstrar que o banco atua de acordo com os mais elevados padrões de integridade e conformidade?

E, nesse sentido, temos implementado medidas para fortalecê-lo. Em janeiro, aprovamos uma nova política anticorrupção. Também firmamos uma aliança com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

E estamos, de fato, em um processo de adesão a algumas entidades de transparência, como International Aid Transparency Initiative, Publish What You Fund, etc.

A outra questão tem a ver com a eficiência. Fizemos uma avaliação antes da aprovação do orçamento de 2024 e conseguimos aprovar um orçamento 18% mais baixo que o plano original e 8% menor que o do ano passado. Com isso, queremos demonstrar que o banco pode trabalhar com austeridade.

O terceiro pilar tem dois aspectos. Primeiro, como maximizar o impacto que temos nos países membros. E a boa notícia é que acabamos de iniciar o processo de planejamento estratégico para desenvolver a estratégia do BCIE para os próximos cinco anos.

O outro componente, que anda de mãos dadas com o primeiro, é um processo de reforma integral da governança do banco para identificar como fortalecê-lo para essa próxima etapa que vamos iniciar e que nos permitirá servir melhor os 15 países membros. Porque, na verdade, não temos a responsabilidade de servir somente os países da América Central, mas todos os países membros.

BNamericas: Quando esse planejamento estaria pronto?

Sánchez: Esperamos ter um primeiro rascunho até junho deste ano.

BNamericas: Qual é a importância do fenômeno do nearshoring na região? Como você vê isso na perspectiva do banco?

Sánchez: Vejo isso como uma grande oportunidade, que já está sendo materializada, por exemplo, no México. Mas estamos vendo apenas a ponta do iceberg, talvez com um pouco mais de profundidade em um país como a Costa Rica, que está trazendo muitos investimentos para dispositivos médicos, para o setor de saúde, em geral. Ainda assim, como digo, estamos vendo apenas a ponta do iceberg no restante da região, em países que podem atrair muito mais investimento estrangeiro direto através deste convite dos Estados Unidos às empresas que estão localizadas sobretudo na Ásia para que se aproximem de seu mercado. E nós, na América Central, temos uma posição geográfica privilegiada.

É uma questão que vamos abordar muito dentro da nova estratégia. A outra questão vital é como avançar e tratar o tema da migração, e queremos fazer isso com base em uma perspectiva proativa, ou seja, sem perder talentos.

Outra questão fundamental para avançarmos terá a ver com o aprofundamento dos elementos ESG (ambientais, sociais e de governança) nas nossas emissões, nos nossos investimentos e no nosso portfólio. Como podemos dar muito mais impacto ambiental e social às iniciativas de infraestrutura, energia ou qualquer outro tipo de projeto que temos no nosso portfólio.

BNamericas: Falando da região em geral, muitos países da América Central estão bastante endividados. Quais seriam os veículos de financiamento ideais para esse tipo de situação?

Sánchez: Isso varia de país para país. Uma coisa prioritária para mim é poder me aproximar de cada um dos governos para que sejamos um catalisador e um apoio para seus planos de melhoria. Então isso varia muito.

Por exemplo, a Guatemala é um país que tem condições macroeconômicas muito sólidas. Gostaríamos de poder motivá-los mais a investir com o BCIE em projetos de infraestrutura, impacto social, impacto ambiental, etc.

O mesmo acontece com um país como a Costa Rica, que tem uma participação menor na carteira, ou países como o Panamá, onde temos a oportunidade de ir mais fundo e fazer mais projetos. Se pensarmos em um país como Honduras, acho que precisamos entender melhor onde podemos agregar mais valor, considerando os tipos de iniciativas existentes no roteiro.

Podemos agregar mais valor, mas outros bancos multilaterais também podem, porque os desafios da América Central são tão grandes que é impossível pensar que apenas uma instituição financeira ou um único ator possa ter todas as soluções. No caso de El Salvador, o país tem um pouco mais de desafios em questões macroeconômicas, por isso estamos conversando para ver como podemos acompanhar os processos que eles já estão planejando para melhorar significativamente e reduzir os níveis de dívida, a fim de garantir um melhor acesso aos mercados financeiros. De qualquer forma, como eu disse, varia de país para país.

BNamericas: Você mencionou que é difícil generalizar, mas como resumiria a visão macroeconômica que você tem hoje da América Central?

Sánchez: Gosto de ser positiva. Então, em uma perspectiva geral da região, temos coisas interessantes: uma expectativa de crescimento para as economias centro-americanas que é até um pouco maior que a da América Latina, e, por sua vez, a da América Latina, que é maior que a expectativa de crescimento mundial.

Espera-se um crescimento global de 2,9%, mas na América Central o crescimento estimado é de 3,8%.

Acredito que a questão do nearshoring nos permitirá trazer muito mais crescimento e prosperidade à região nos próximos três a cinco anos.

Obviamente, tudo deve vir acompanhado de mais disciplina fiscal, que é um dos desafios que temos. É preciso tentar reduzir o elevado custo de vida.

Espero que sejam criadas oportunidades para atrair investimento, para que haja mais PMEs e que essas empresas cresçam.

Temos o desafio da migração em grande escala, que é definitivamente grande.

Há erosão dos contratos sociais. Por isso, precisamos de mais coesão social e de mais sustentabilidade nas finanças públicas dos países. Em nível global, existe tensão geopolítica tanto no foco Rússia-Ucrânia quanto no foco Israel-Gaza. Há muitas expectativas em relação a uma redução nas taxas de juros e à evolução dos mercados. Basta olhar para a perspectiva econômica.

A isso acrescentamos os desafios ambientais. Estamos na América Central, uma das regiões que serão mais afetadas pelas mudanças climáticas. Temos que buscar oportunidades. Acredito que há muitas e espero que o BCIE seja muito proativo nos próximos anos para encontrar mais oportunidades de captura de carbono e para que um mercado de carbono seja criado na região. A Costa Rica, por exemplo, já está se aproveitando disso. E devemos aproveitar a América Central como uma região, como um bloco, que pode vender muito bem no resto do mundo.

BNamericas: Durante a administração anterior houve muita ênfase na concessão de créditos a países de fora da região, como Argentina ou Colômbia. Você continuará com essa política?

Sánchez: Eu diria que, além de escolher um país ou outro, um compromisso do meu período como presidente do banco é diversificar o nosso portfólio e poder garantir que tenhamos um portfólio saudável e robusto, que tenha um bom equilíbrio da economia e que não corramos riscos.

Então, nesse sentido, acho que ainda temos oportunidades de apostar mais em alguns países da região cuja participação na carteira não é tão grande quanto gostaríamos. Dou o exemplo específico da Guatemala e da Costa Rica, que, sendo países da América Central, ainda representam um percentual, digamos, com grande oportunidade de crescimento. Especificamente, a Costa Rica representa cerca de 10% da nossa carteira de empréstimos ao setor público, e a Guatemala, 5%. Então, poderíamos chegar ao nível de 15%. O Panamá é outro país em que ainda temos oportunidade de crescer. A República Dominicana nem tanto, porque estamos nos níveis esperados.

A Argentina também já está nesse nível. Talvez a Colômbia pudesse ter um pouco de crescimento, mas, no geral, mais importante do que abordar a América Central versus o resto da América Latina, para mim, o mais relevante é garantir que tenhamos uma diversificação de portfólio muito boa, que apoie a melhoria potencial da nossa classificação de risco e nos permita servir os países da melhor forma possível.

BNamericas: Não posso deixar de perguntar sobre um assunto que gerou polêmica durante a última gestão, que são os créditos à Nicarágua. Qual é sua opinião sobre eles?

Sánchez: Acredito que a nossa responsabilidade é atuar com o maior rigor técnico. Afinal, somos um banco. Não somos uma instituição política, mas uma instituição financeira e de desenvolvimento. Então, embora seja verdade que temos que continuar apoiando todos os países da região, quando vemos as possibilidades de acordo com a diversificação do portfólio atual, a Nicarágua é um dos países que nos apresenta mais desafios para crescer em termos de acesso ao capital do BCIE.

Meu compromisso é que temos de continuar apoiando, é um país membro, é um país fundador do banco, mas temos de fazer isso da maneira mais responsável possível, ajustando-nos aos limites estabelecidos e trabalhando com o maior rigor técnico para garantir o uso adequado dos recursos em todos os países.

BNamericas: Você mencionou há pouco as prioridades do planejamento, mas gostaria de saber se existem projetos prioritários específicos.

Sánchez: Este processo de planejamento permitirá que a gente identifique melhor os setores em que poderíamos nos concentrar mais e as oportunidades de crescimento que poderíamos apoiar mais. O melhor exemplo é o nearshoring, onde temos que entender onde está a oportunidade em cada um dos países, como podemos apoiá-los, se o que eles precisam é trabalhar nas questões energéticas, como o caso de Honduras, ou se é necessário desenvolver mais infraestrutura para o crescimento do nearshoring, como na Costa Rica, ou quais setores serão mais atrativos para as empresas.

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