O que a reeleição dos líderes do Senado e Câmara dos Deputados significa para Lula

Os líderes do Congresso foram reeleitos na quarta-feira (01), com Arthur Lira, do partido Progressistas, de centro-direita, obtendo uma vitória muito confortável para a presidência da Câmara, e Rodrigo Pacheco, do partido centrista PSD, vencendo uma disputa acirrada pelo cargo de liderança do Senado. 

A reeleição de Lira foi muito aguardada pelos analistas políticos e o Partido dos Trabalhadores (PT) tomou a decisão estratégica de não contestá-lo com um candidato próprio.

No Senado, o PT apoiou a reeleição de Pacheco por falta de apoio para apresentar candidato.

Nesta entrevista, a BNamericas conversa com Creomar de Souza (foto), CEO da consultoria Dharma Political Risk and Strategy, sobre o que significa para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a reeleição dos líderes do Congresso.

BNamericas: O que significa para o governo Lula a reeleição de Pacheco, como presidente do Senado, e de Lira, na Câmara dos Deputados?

Souza: Lula conseguiu o que era seu plano inicial, com dois atores políticos com quem ele sabia que era possível estabelecer algum tipo de acordo, e ter um mínimo de estabilidade decisória para cumprir a agenda do governo.

No caso da Câmara, é óbvio que, para alguns petistas, sempre haverá aquela sensação de que Lira foi parceiro de Jair Bolsonaro. Porém, Lira tem uma característica muito importante: é uma pessoa que não volta atrás na palavra dada.

Nota do Editor: Desde a vitória eleitoral de Lula em outubro, Lira mantém uma relação amistosa com o presidente e diz que não fará oposição ao governo no Congresso.

Isso gera uma situação que, de certa forma, é mais confortável para Lula. No entanto, isso não significa que o governo terá uma vida fácil. Mas significa que, pelo menos no início do governo, não haverá oposição aberta ao poder executivo nem da Câmara nem do Senado.

BNamericas: Esse resultado aumenta as chances de aprovação da reforma tributária nos próximos meses?

Souza: O avanço da agenda de reformas, agora, cabe ao Ministério da Fazenda. O ministro [Fernando] Haddad tem que apresentar uma proposta de reforma tributária e o Congresso vai avaliar essa proposta.

Acredito que essa estratégia tem que ser bem desenhada e há uma questão importante a ser mencionada também em relação ao resultado da eleição do Senado.

Pacheco recebeu 49 votos, exatamente o número mínimo de votos que uma emenda constitucional precisa para ser aprovada no Senado.

Nota do editor: A reforma tributária seria proposta como emenda à Constituição

Isso cria um cenário difícil para o governo, reforçando a tese de que a proposta tem que ser muito bem negociada.

Também é importante mencionar que Rogério Marinho sai politicamente mais forte do que quando entrou nesta eleição para a presidência do Senado, enquanto Rodrigo Pacheco sai mais fraco porque sua candidatura perdeu força, e sem o apoio do governo, muito provavelmente teria sido derrotado.

Haddad disse que quer apresentar a proposta de reforma ao Congresso em abril e, a partir daí, veremos como isso se dará. Mas a possibilidade de aprovar uma reforma tributária é maior com Pacheco no Senado e Lira na Câmara.

BNamericas: Alguns analistas sugeriram que a composição mais centro-direita do Congresso representa um sinal de um equilíbrio de poder entre o governo e o Congresso. Os acontecimentos recentes, na sua opinião, mostram que o governo Lula tem mais ou menos apoio no Congresso?

Souza: A composição do Congresso facilita o avanço da agenda econômica.

Mesmo que Rogério Marinho tivesse sido eleito presidente do Senado, não haveria grandes dificuldades para avançar em uma reforma tributária, por exemplo.

Mas essa configuração do Congresso com maioria de centro-direita fará com que a possibilidade de avançar com reformas econômicas seja muito maior do que a possibilidade de avançar com reformas de natureza social ou moral. Isso fará com que o governo Lula avance nas questões econômicas, mas não conseguirá cumprir outras promessas.