Por que a Aegea busca mais oportunidades de investimento em saneamento

Maior empresa privada de saneamento do Brasil, a Aegea Saneamento e Participações tem buscado uma expansão agressiva nos últimos trimestres, visando consolidar sua posição de liderança.

No início deste mês, a Aegea liderou um consórcio – em conjunto com as empresas locais de investimento Perfin e Kinea –, único licitante no leilão da Corsan, concessionária de água do estado do Rio Grande do Sul, oferecendo R$ 4,15 bilhões (US$ 800 mi).

Nesta entrevista, André Pires, CFO da Aegea, conversa com a BNamericas sobre a estratégia financeira da empresa para manter um balanço forte mesmo após uma série de grandes negócios, o apetite por novas aquisições e a possibilidade de mudanças regulatórias no setor.

BNamericas: Quando o consórcio liderado pela Aegea assumirá o controle da Corsan e qual o plano de investimentos para as operações da empresa no Rio Grande do Sul?

Pires: O contrato da Corsan é uma operação de privatização clássica, onde o governo do estado do Rio Grande do Sul vendeu 100% das ações.

Este processo depende ainda de algumas aprovações regulatórias, inclusive do Cade.

Acredito que até março de 2023 já tenhamos todas essas aprovações e estaremos aptos a assumir o controle da empresa. 

Os investimentos necessários na Corsan, que estão incluídos no edital, são de R$ 13 bilhões até 2033, uma vez que a empresa ainda conta com uma baixa cobertura de atendimento na área de esgoto. Destes R$ 13 bi, a tendência é que 80% dos investimentos sejam feitos nos primeiros seis ou sete anos do contrato.

BNamericas: A aquisição da Corsan custou R$ 4,15 bilhões para o consórcio liderado pela Aegea. Como isso será financiado?

Pires: Criamos uma holding específica para esta aquisição, que não está consolidada no balanço da Aegea. Esta holding é composta por 70% de dívida e 30% de equity das empresas que compõem o consórcio que comprou a Corsan.

Com relação à parte da dívida, isto se refere a um empréstimo-ponte com um grupo de oito bancos, com os quais já temos assinado um compromisso.

Essa foi a forma de deixarmos o balanço da Aegea mais limpo, mais folgado.

BNamericas: Qual será a necessidade de financiamento da Aegea em 2023?

Pires: Recentemente, nós obtivemos um financiamento do BNDES que viabilizou toda nossa estrutura de funding para a nossa concessão no Rio de Janeiro, a qual foi uma operação de R$ 19,3 bilhões.

Olhando para 2023 e também para 2024, em algum momento vamos acessar o mercado de capitais, principalmente o mercado de dívida local, para tentar alongar nosso perfil da dívida, que hoje tem um prazo médio acima de 5 anos.

Como somos uma empresa que atua num setor de capital intensivo, é sempre importante trabalharmos para alongar as dívidas.

Por exemplo, com nossa operação de financiamento no Rio de Janeiro, através do BNDES, o prazo médio daquele financiamento é de 20 anos.

BNamericas: Alguns governos estaduais manifestaram interesse em privatizar suas respectivas empresas de saneamento, como Sabesp, Copasa e Sanepar. A Aegea estaria interessada nessas oportunidades?

Pires: Sempre temos interesse, uma vez que nosso principal objetivo enquanto empresa é levar uma vida digna às pessoas, aumentando a cobertura de saneamento no país.

Para tanto, visando sempre nos mantermos preparados para potenciais novas aquisições, é que trabalhamos constantemente para manter uma adequada estrutura de capital.

BNamericas: Na área de saneamento, você espera um 2023 com mais oportunidades em termos de privatizações, concessões e PPPs?

Pires: Acho que só ao longo do primeiro trimestre de 2023 teremos uma visibilidade maior sobre isso.

Eu diria que ha oportunidades variadas. Por exemplo, a cidade de Porto Alegre, que não está hoje atendida pela Corsan, está em meio a uma consulta pública para oferecer uma concessão, da qual com certeza teremos interesse em participar.

Mas estamos abertos às oportunidades, uma vez que operamos bastante através de concessões e PPPs.

BNamericas: Há alguns temores de uma possível mudança nas regulamentações do setor de saneamento. Como você enxerga esta possibilidade?

Pires: Continuamos entusiasmados com as oportunidades do setor. Há no Brasil cerca de 50% da população – mais ou menos 100 milhões de pessoas – sem acesso adequado a esgoto, e isto necessita de investimento privado para melhorar.

Não acredito que esta jornada que estamos vendo irá mudar. Claro que sempre estamos avaliando o cenário, mas não acredito em retrocessos [regulatórios].

BNamericas: Quando a Aegea pretende fazer um IPO?

Pires: O IPO é uma das opções de fonte de capital para nosso processo de crescimento, e é algo que sempre estamos discutindo dentro da empresa, mas não temos um prazo definido.