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Por que o Brasil está se tornando um polo global de investimentos em tecnologia

Bnamericas Publicado: quarta-feira, 01 fevereiro, 2023
Por que o Brasil está se tornando um polo global de investimentos em tecnologia

As startups de tecnologia latino-americanas se beneficiaram de 1.251 rodadas de financiamento para um total de US$ 12 bilhões em investimentos no ano passado, de acordo com um relatório conjunto do Itaú BBA e Sling Hub. O volume de investimentos caiu 34% em relação a 2021.

“Com taxas de juros mais altas e níveis de inflação impactando a liquidez, o resultado foram avaliações mais restritas, processos de due diligence mais longos e difíceis, menos unicórnios e um sentimento geral de cautela”, diz o relatório.

Em entrevista à BNamericas, o managing director do Itaú BBA, Thiago Maceira, fala sobre as perspectivas de 2023 para o segmento de venture capital com foco em tecnologia.

BNamericas: O que você destacaria como mais relevante no relatório em termos de tendências?

Maceira: Há duas formas de olhar para os dados de 2022. Quando pensamos na evolução em sequência, os números do ano passado são obviamente muito mais fracos do que os de 2021. Mas pegando um recorte mais longo prazo, você vai ver que 2022 foi relativamente forte em arrecadação de fundos. 2021 foi um ano off-charts em termos de liquidez.

E isso se deu por uma combinação de vários fatores já conhecidos. Primeiro, tivemos uma aceleração muito forte da digitalização no Brasil e na América Latina a partir de 2020, com a pandemia. Isso atraiu muita atenção dos fundos globais, e o excesso de liquidez fez com que esses fundos tivessem muito capital para investir. 2021 foi a tempestade perfeita disso tudo.

Mas mesmo assim, em 2022, tivemos um bom fluxo financeiro e um número muito grande de transações, o que mostra que o ecossistema da região está muito mais maduro e forte do que no passado.

Além disso, a grande desaceleração que tivemos foi geral, mas muito mais nas empresas late-stage e pré-IPOs. Estas sofreram muito mais. Em alguns casos, a queda [no financiamento] chegou a 60%. Empresas maiores, que precisavam de cheques muito maiores, foram as que mais sofreram.

BNamericas: A que você atribuiria isso?

Maceira: Muitas dessas empresas eram empresas B2C, que cresceram demais durante a pandemia. Eles investiram muito para atender a demanda. Mas aí, com as particularidades do B2C, dada a queima de caixa, a necessidade de investimento para continuar crescendo, essa tese ficou um pouco mais difícil no mercado.

E também porque essas empresas talvez estivessem mais próximas de um IPO. Com um mercado um pouco mais reticente, os fundos decidem se conter.

No segmento inicial, também houve queda, mas menos relevante.

Agora, em termos de quantidade e diversificação de fundos, 2022 foi um ano importante. Continuamos com novos fundos olhando e investindo no Brasil. Essa é mais uma prova de que o Brasil está se tornando um dos polos de investimentos em tecnologia do mundo.

BNamericas: Houve também crescimento de fundos domésticos, não foi?

Maceira: A diversificação é global. Hoje existem muito mais family-offices, fundos locais, fundos de private equity, que estão aprendendo e querendo participar cada vez mais desse [processo] de digitalização.

BNamericas: E regionalmente, como esses investimentos se encaixam?

Maceira: Quando você compara a América Latina com o Brasil, o Brasil continua super-relevante. Mas começamos a ver esses investimentos surgindo com mais força em outros mercados da região. Isso está muito relacionado ao nível de digitalização. O Brasil está muito mais avançado nesse sentido do que seus pares regionais, principalmente na América do Sul.

À medida que outros países avançam nesse caminho, o mesmo acontece com os investimentos. Vimos uma maior participação de outros mercados também, há muito interesse, unicórnios surgindo em diferentes países.

Mas, novamente, o Brasil deve continuar sendo o grande polo tecnológico regional pelo tamanho de sua economia, pelo grau de digitalização e até mesmo por aspectos culturais relacionados à incorporação da tecnologia no cotidiano.

BNamericas: Alguns analistas apontam que houve uma acomodação para patamares mais saudáveis nas avaliações das empresas de tecnologia. Você compartilha dessa opinião ou acredita que é mais um constrangimento ao investimento dado o contexto macroeconômico e taxas de juros mais elevadas?

Maceira: Houve uma análise global sobre como o mercado avalia o crescimento e o potencial dessas empresas digitais e 'exponenciais'.

Mas não é que os investidores não estejam mais buscando crescimento acelerado. Eles estão olhando mais para o crescimento autossustentável. Nos últimos três, quatro anos, uma empresa que cresceu 300% foi vista de forma mais favorável do que uma que cresceu 50%. Mesmo que o primeiro precise de capital a cada seis meses.

Uma das razões para isso é que o capital era abundante. Ninguém pensou que eles não teriam chance de arrecadar fundos a cada seis meses. Uma vez que o capital se torna um dos ativos restritivos, os investidores olham para as empresas e começam a exigir que elas sejam de fato lucrativas, autossustentáveis. A perspectiva de capital menos abundante fez com que empresas e investidores reavaliassem sua capacidade de crescimento. É um reequilíbrio da equação financeira de crescimento mais lucratividade.

Mas outro fator que afetou todo o mercado, e não apenas a tecnologia, é que hoje temos um novo patamar de juros no mundo. Todos os ativos, sejam imóveis, varejo, infraestrutura, com as taxas de juros mais altas, as taxas de desconto ficam maiores. E o valor intrínseco das empresas tende a cair.

Em uma empresa de tecnologia, a maior parte do valor está no futuro, que é quando ela gerará fluxo de caixa e será mais lucrativa. Se a taxa de juros subir, você desconta o valor presente e esses fluxos de caixa futuros diminuem.

Mas tendo dito isso, se você tem uma empresa que é 'autofinanciada' e cresce 300%, os investidores ainda vão pagar 15, 20, 30 vezes o faturamento.

BNamericas: Qual é a sua perspectiva para este ano?

Maceira: Estamos otimistas com o que vai acontecer no ecossistema. Deixando um pouco de lado o valuation e as taxas de juros, estamos no meio do processo de transformação digital na América Latina e no Brasil.

Tivemos uma aceleração muito forte na pandemia, mas ainda há muito espaço para crescer, principalmente em digitalização e serviços para pequenas e médias empresas.

E quando a gente olha o desempenho dessas empresas de tecnologia no Brasil, elas continuam crescendo forte, entregando produtos, impactando a economia. Empresas de comércio eletrônico, empresas de software que estão impactando a economia real e crescendo a taxas muito boas. Os investidores globais estão olhando muito para isso.

O interesse pelo Brasil, mesmo que relativo, é ainda maior, eu diria. Porque em comparação com algumas outras regiões há crescimento, a economia é grande e precisa de inovação para se tornar mais produtiva e melhorar a eficiência.

O que vemos para este ano é um interesse em empresas B2B, com investimentos em fase tardia, ou empresas em fase de crescimento, retornando lentamente à medida que o mercado se estabiliza.

Outra tendência são as fusões e aquisições. À medida que essas empresas de tecnologia se tornam maiores, é natural que elas se unam e se consolidem. E empresas que não nasceram no mundo digital também veem as aquisições como uma oportunidade de tentar adquirir competência e pessoal para o desenvolvimento de um produto digital.

BNamericas: Presumo que você fala com conhecimento de causa. O Itaú BBA está assessorando empresas nesses processos?

Maceira: Não posso falar de negócios ou nomes, mas é algo que deve acontecer. Eu ficaria surpreso se 2023 não fosse um bom ano para fusões e aquisições.

BNamericas: A janela para IPOs será reaberta este ano?

Maceira: Vive-se um momento especial no Brasil pela percepção de que os juros e a inflação estão cada vez mais sob controle. Nosso ciclo de taxas de juros provavelmente está chegando ao fim.

Teremos um ano em que o Brasil voltará a crescer, ainda que de forma moderada. O mercado de ações parece já estar a caminho da estabilização.

À medida que tivermos mais visibilidade sobre as políticas econômicas do governo, isso tende a trazer mais clareza para o mercado.

Os EUA ainda estão um pouco atrás de nós no ciclo de juros, mas tudo indica que o processo de alta também está chegando ao fim. Com tudo isso em andamento, o cenário para o mercado de ações deve melhorar.

Agora, historicamente, essa recuperação do mercado de ações vem primeiro com operações de follow-on [ao invés de IPOs] porque já são empresas listadas, com base acionária.

Em suma, continuamos a ver investidores internacionais com muito interesse no Brasil.

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