White Martins visa expansão de GNL e oportunidades de combustível verde
A White Martins vê boas perspectivas para os mercados de gás natural liquefeito (GNL), gás natural comprimido (GNC) e hidrogênio no Brasil.
A empresa do Grupo Linde estuda expandir sua planta de GNL em Paulínia, São Paulo, e instalar novas bases de GNC em todo o país.
Entretanto, está analisando oportunidades de negócio de hidrogênio verde e biogás/biometano.
A BNamericas conversa com Gilney Bastos, presidente da White Martins e Linde Latin America South, sobre os planos.
BNamericas: Como você avalia o mercado de gás no Brasil?
Bastos: Temos uma planta de liquefação em Paulínia quase lotada, com alto consumo. Em 2021, compramos a participação da Petrobras na usina.
BNamericas: Através do consórcio Gemini, que a White Martins operava com a Petrobras, certo?
Bastos: Sim. A empresa que vende o combustível é a GásLocal [da Linde]. Hoje está 100% voltada para a indústria, substituindo o óleo diesel, o carvão... esses combustíveis que estão completamente ultrapassados e vão à contramão da descarbonização.
Pretendemos expandir a fábrica. Vemos o mercado se abrindo.
BNamericas Qual é a capacidade de produção da unidade?
Bastos: São 13,2 milhões de metros cúbicos por mês, equivalentes a 440 mil m3/d. É uma planta estratégica para a White Martins, atendendo seis estados.
Vemos outras empresas entrando no segmento de GNL. E por que o GNL? Porque precisamos permitir que indústrias que não são atendidas por gasodutos possam trabalhar com combustíveis mais limpos. Essas iniciativas são adequadas para um raio de ação de 400 km, 500 km.
Vemos hoje o Brasil crescendo nesse sentido. Vai depender da demanda, do apetite do país. Estamos passando por uma transição e vemos juros elevados, que começaram a cair, mas inibiram algumas iniciativas. Mas se o país voltar ao bom caminho e trabalhar seriamente nas suas metas de redução das emissões de gases de efeito de estufa, contribuiremos juntos.
BNamericas: A perspectiva de redução no fornecimento de gás boliviano poderia abrir oportunidades para o gás doméstico?
Bastos: O mercado caminhará cada vez mais nessa direção ou retrocederemos e queimaremos carvão e óleo combustível. Não estamos olhando apenas para o GNL, mas também para o GNC. Temos duas estações, uma em Belo Horizonte [Minas Gerais] e outra em Curitiba [Paraná].
E estamos trabalhando em algumas iniciativas de biogás e biomassa, principalmente através do cultivo de cana-de-açúcar. Não temos trabalhado muito com iniciativas que envolvam resíduos [urbanos], mas pretendemos investigar possibilidades com resíduos animais.
A ideia é transformar biomassa em biogás e biometano, engarrafá-la e vendê-la para a indústria ou postos de gasolina, complementando a cadeia do GNL. E, dependendo da quantidade, poderíamos gerar GNL em pequena escala em parceria com a Galileo Technologies, na Argentina. Ou, se for ainda maior, poderíamos usar a nossa própria tecnologia para construir uma nova fábrica de GNL.
BNamericas: Você está pensando em instalar novas bases de GNC no Brasil?
Bastos: Sim.
BNamericas: Quais são seus planos na área do hidrogênio verde?
Bastos: Estamos produzindo hidrogênio verde em escala industrial em Pernambuco, para a indústria alimentícia. É um projeto-piloto de 1,5 MW. É como um showroom: mostramos aos clientes que podemos desenvolver um produto verde [hidrogênio ou nitrogênio verde]. Temos a tecnologia do eletrolisador, a energia verde e a capacidade de investimento.
BNamericas: De onde vem a energia para o projeto em Pernambuco?
Bastos: Temos 230 MW de energia limpa, sendo 130 MW de energia eólica da Ômega Energia e 100 MW de energia solar da Eneva. A certificadora é a TÜV Rheinland, da Alemanha.
BNamericas: A White Martins assinou memorandos de entendimento para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio verde com portos brasileiros.
Bastos: Com os portos do Açu [Rio de Janeiro] e Pecém [Ceará] ,e com os governos do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Esses acordos centram-se na produção de hidrogênio, amoníaco ou metanol para exportação, especialmente para a Europa. Então esses portos precisam de uma espécie de pool, com uma empresa que gere energia, uma que opere o eletrolisador, uma que gere nitrogênio para fazer amônia etc.
Em Pecém, temos uma planta de oxigênio e nitrogênio com capacidade de 2.300 t/dia. É a maior planta de gases atmosféricos da América do Sul. E está lá por causa da siderúrgica de Pecém.
BNamericas: E essa siderúrgica poderia ser transformada em uma siderúrgica verde?
Bastos: Sim, há energia para isso.
BNamericas: O Porto do Açu quer atrair empresas para produzir fertilizantes?
Bastos: O Açu tem como alvo fertilizantes para o mercado interno e amônia para exportação.
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, o governador [Eduardo Leite] está entusiasmado e tem feito muitos esforços; há muitas oportunidades para energia eólica e solar no estado. E eles têm um porto [Rio Grande] muito bem preparado para exportar bastante.
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