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A computação de borda na América Latina

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A computação de borda na América Latina

Impulsionadas pelo lançamento do 5G privado e público e pela expansão de projetos de conectividade e IoT no âmbito da indústria 4.0, as iniciativas de computação de borda começam a decolar na América Latina, com expectativas de intensificação nos próximos anos.

A arquitetura de borda refere-se à descentralização do armazenamento de dados e do processamento de dados em várias estruturas de mini datacenter menores, levando o conteúdo para próximo da localização física do usuário ou fonte de dados.

Com um processamento mais próximo, os usuários finais se beneficiam de uma conexão mais rápida, menor latência e serviços mais estáveis, além de uma melhor transmissão, tornando essas arquiteturas cada vez mais relevantes para aplicações industriais em tempo real com muitos dados.

Embora as projeções de mercado não sejam precisas – já que muitos projetos da América Latina estão em fase de planejamento inicial ou piloto – algumas consultorias estão olhando para o futuro.

A Grand View Research prevê que o mercado latino-americano de computação de borda pode valer US$ 43,4 bilhões nos próximos cinco anos.

Quanto mais dados forem gerados e consumidos como resultado da digitalização e da introdução de novos aplicativos, mais as organizações exigirão maior capacidade de borda e computação em nuvem.

Assim, as empresas, desde operadoras a grupos de internet e provedores de infraestrutura, estão implementando essas estruturas ou trabalhando em pilotos e/ou estudos sobre sua aplicabilidade.

Um estudo de 2020 da IDC previu que até 2023 mais de 30% de toda a infraestrutura de dados de TI corporativa implantada na América Latina será de borda, em comparação com datacenters corporativos tradicionais.

De acordo com a empresa de pesquisa Gartner, 50% de todos os dados globais serão processados fora dos datacenters até 2023 e 70% até 2025.

Uma pesquisa global de 2021 do provedor de soluções de gerenciamento de energia e missão crítica Vertiv com 156 profissionais do setor – 35 dos quais eram da América Latina – revelou que a América Latina tinha uma das maiores porcentagens de TI ainda no local, com 50%, e uma das menores porcentagens de participantes implantando ou planejando novos sites de borda (30%).

No entanto, as empresas da América Latina esperam, em média, que a taxa de infraestrutura de TI na borda cresça para 30% em 2026, de 21% em 2021 – a maior mudança para a borda em todas as geografias avaliadas pela Vertiv.

De acordo com o mesmo estudo, a redução do tempo de inatividade de equipamentos de fabricação e a otimização da cadeia de suprimentos foram os casos de uso mais populares que impulsionaram os investimentos de borda em todo o mundo.

A manutenção preditiva foi o principal caso de uso citado pelos participantes (39%), seguida pela manutenção baseada em condições.

Cerca de 42% dos sites atualmente instalados consistiam em mais de quatro racks de equipamentos de TI e tinham requisitos de energia acima de 20 kW.

A pesquisa abrangeu os principais setores, incluindo bancos e finanças (8%), colocation/hosting/nuvem (7%), engenharia e construção (9%), educação (5%), manufatura (17%), serviços profissionais (11%), varejo (8%), telecomunicações (12%) e transporte (7%).

INICIATIVAS EM ANDAMENTO

Embora o conceito de arquiteturas de dados de borda não seja novo, tornou-se uma tendência nos últimos tempos, à medida que o streaming, os jogos e a indústria 4.0 dispararam, elevando o consumo de dados e de TI a novos patamares.

A BNamericas vem relatando o crescente interesse em investimentos em borda por players do setor de TIC da América Latina há pelo menos dois anos.

Apresentamos aqui uma visão geral de algumas dessas iniciativas, a maioria delas ocorrendo no maior e mais avançado mercado de dados da América Latina, o Brasil.

Da América Móvil à AWS

A Embratel, empresa brasileira de B2B da América Móvil, planejava ter 12 datacenters de borda implantados no país até o final de 2021. Na última atualização, a Embratel disse que três deles já estavam em operação em São Paulo, Brasília e Curitiba.

As demais estão previstas para Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitória, Cuiabá, Manaus, Belém, Porto Alegre, Fortaleza e Salvador.

A BNamericas entrou em contato com a empresa sobre esses lançamentos, mas não recebeu uma resposta até a publicação deste artigo.

Entre os principais provedores de nuvem, a gigante norte-americana AWS pretende abrir novas zonas de computação relacionadas à borda, chamadas AWS Local Zones, em seis cidades latino-americanas até o final de 2023. Um deles já está em operação no Rio.

As outras estruturas estão previstas para os próximos meses em Bogotá, Buenos Aires, Lima, Querétaro e Santiago e fazem parte de mais de 30 desses novos sites a serem implantados globalmente pela empresa.

A AWS possui três desses sites em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, além de 17 Zonas Locais nos EUA.

As zonas locais da AWS são um tipo de infraestrutura que estende as regiões de nuvem da AWS (clusters de datacenter) para colocar computação, armazenamento, banco de dados e outros serviços próximos a clientes individuais e centros industriais e de TI.

Isto, de acordo com a empresa, permite que os clientes implantem aplicativos que exigem latência inferior a 10 milissegundos mais próximos dos usuários finais ou datacenters locais.

Outra arquitetura relacionada à borda da AWS é a denominada Outposts. Ela permite que os clientes executem computação, armazenamento, banco de dados e outros serviços em ambientes locais enquanto se conectam à ampla gama de serviços em nuvem da AWS, de acordo com a empresa.

A Telefónica é uma das principais empresas de telecomunicações que operam na América Latina utilizando Outposts e planeja usá-la para a infraestrutura de seu núcleo de rede 5G nativa da nuvem, começando pelo Brasil.

A iniciativa deve otimizar a oferta de serviços 5G da Telefónica para clientes brasileiros, de acordo com a telco.

A AWS também está conversando com empresas da América Latina, incluindo mineradoras, para implantar computação de borda em suas redes privadas.

Também no Brasil, a Edge UOL, unidade recém-criada do grupo brasileiro de internet UOL, anunciou uma parceria com os Data Centers Scala – propriedade de AWS e DigitalBridge – para explorar a computação de borda.

Sob a parceria, o Edge UOL atuará como um provedor de serviços gerenciados com base nos servidores de infraestrutura locais do AWS Outposts instalados nos datacenters de borda da Scala.

TIM e Ava

Outra operadora brasileira, a TIM pretende implantar mais de 60 pequenos datacenters de borda em todo o país até o final de 2023, visando processar determinadas operações e aproximar o conteúdo dos usuários. Atualmente, a operadora tem mais de 40 datacenters de borda implantados.

Anteriormente, a TIM tinha planos de ter 55 pontos de datacenter de borda (DCE) em 51 cidades até o final de 2025.

O investimento da TIM em datacenters de borda ocorre em paralelo com seus desinvestimentos em datacenters de TI tradicionais.

A telco planeja vendê-los, uma vez que terceiriza essa infraestrutura para a nuvem. No mês passado, dados do Cade mostraram que a TIM havia firmado um acordo para vender um datacenter de Porto Alegre para a Elea Digital, da Piemonte.

Tendo a borda como principal proposta de negócios, a Elea conta com a Vertiv para entregar serviços de datacenter de borda no Brasil. Por meio de uma aliança firmada pelas partes, a Vertiv prestará serviços de operação e manutenção para os seis datacenters da Elea Digital, localizados em Brasília (dois), Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo.

Enquanto isso, a provedora de telecomunicações corporativa e de atacado Ava Telecom anunciou planos para implantar uma rede de datacenters de borda no estado de São Paulo, onde suas operações para provedores de serviços de Internet (ISPs) estão concentradas.

O projeto, anunciado no ano passado, conta com a parceria da Multiway, Leveros Solar e BlumaTech. A Multiway é a fabricante dos racks e servidores, enquanto a Leveros fornecerá os painéis fotovoltaicos.

A Ava também disse que “investe continuamente na construção de redes DWDM (multiplexação por divisão de comprimento de onda)” para adicionar mais capacidade de transmissão à sua malha ótica, com mais de 800 km de redes óticas a serem acesas (ativadas) no estado de São Paulo.

Outros casos de uso

Em outros lugares da América Latina, a Telecom Argentina vem revelando suas intenções de nuvem e borda.

“Estamos começando a implantar o processamento junto com nossos parceiros, tanto em nossas próprias redes quanto em nossa própria nuvem, além de trabalhar com parceiros para que a latência seja muito baixa”, disse o diretor B2B da Telecom Argentina, Leonardo Coca, à BNamericas.

“A primeira coisa que temos que fazer é ter processamento no país, depois começar a instalar [hardware de processamento], que ainda não está funcionando nas células da rede, mas existe nas províncias” na borda da rede, acrescentou.

A principal telco argentina opera cinco datacenters, sendo o maior em Pacheco, atendendo a principais hiperescaladores, e tem alianças para as nuvens da Microsoft, AWS, Google, IBM e Huawei.

Fundada em 2009 e sediada nos EUA, a EdgeConneX, focada em borda, afirma ter construído 40 datacenters na América do Norte, Europa e América do Sul desde 2013.

Na região, a EdgeConneX possui dois datacenters sul-americanos, na Argentina e no Chile.

Localizado em Pilar, na Grande Buenos Aires, o site EDCBUE01 da EdgeConneX é carrier-neutral, projetado com 10,5 MW de capacidade com 3,5 MW em uso inicial e conectado às redes de Metrotel, Cirion, Silica Networks, IPLAN, Claro, Internexa e Telecom Argentina.

Enquanto isso, sua instalação chilena SCL01, localizada a 21 km do centro de Santiago, possui 1.393 m² de data hall, espaço total planejado de 2.600 m² e um projeto para 3,5 MW de capacidade.

A EdgeConneX tem a nuvem Oracle Cloud FastConnect disponível localmente nas instalações de Santiago, permitindo links de rede dedicados e privados para a plataforma de nuvem Oracle a partir do datacenter de borda, de acordo com a empresa.

“Trabalhamos com nossos clientes provedores de serviços para definir, construir e fornecer capacidade de datacenter neutra para operadoras que traz vantagem para nossos clientes e nossos clientes para a borda”, relata a empresa em seu site.

Caribe

Um estudo da IDC patrocinado pela Schneider Electric destaca o Caribe como uma região particularmente propensa a arquiteturas de computação de borda.

Especificamente, para datacenters pré-fabricados e modulares, como uma solução para necessidades complexas de infraestrutura de TI em seus ambientes de ilha restritos.

“Na América Latina, embora essa tecnologia ainda esteja em fase de implantação, estima-se que 70% do investimento em computação de borda seja alocado em hardware e conectividade”, afirma o estudo.

“No Caribe, esse investimento terá mais ênfase em hardware, pois, nesta região em particular, a disparidade em termos de conectividade, energia e suas peculiaridades geográficas implicam mais desafios para a presença de datacenters, fazendo com que a computação de borda faça mais sentido.”

No entanto, de acordo com a Vertiv, para sites de borda, a segurança física e de dados deve ser considerada. Ao distribuir recursos de TI, a computação de borda complica o gerenciamento de segurança de dados, acrescentou.

“No entanto, em alguns casos de uso, como saúde, os sites de borda podem reduzir a vulnerabilidade dos dados, mantendo-os próximos ao ponto de geração e minimizando a exposição a ameaças criadas pela transmissão de dados para a nuvem”, concluiu a Vertiv.

Players de hardware

Uma das principais integradoras de serviços de TI com atuação na América Latina, a Logicalis anunciou recentemente uma parceria com a Dell para a oferta de infraestrutura de processamento de dados para operadoras que estão estruturando redes 5G.

A aliança, por meio da qual a Logicalis integra equipamentos da Dell, visa a demanda por ambientes de computação de borda.

“A Dell é uma participante importante em nossa oferta de tecnologia para redes 5G”, disse o CTO da Logicalis para a América Latina, Kan Wakabayashi, em comunicado.

No ano passado, o vice-presidente de vendas de soluções de datacenter da Dell, Christiano Lucena, afirmou em entrevista coletiva que 53% das empresas planejavam implementar a computação de borda nos próximos 12 meses.

Um grande concorrente da Dell, a IBM – principalmente por meio de sua subsidiária Red Hat – está entre os mais fortes impulsionadores da borda na América Latina.

O CEO da IBM Brasil, Marcelo Braga, disse recentemente à BNamericas que a empresa tem “vários compromissos” com players de verticais como bancos, seguros, indústria e telecomunicações para borda, embora não tenha dado detalhes sobre contratos ou projetos em andamento.

Em uma entrevista coletiva em junho em Buenos Aires, Adrián Cambareri, gerente de sistemas operacionais do RHEL (Red Hat Enterprise Lunix), disse em resposta a uma pergunta da BNamericas que as empresas adotaram a nuvem híbrida e estão usando mais de um operador de nuvem pública, mas que a maioria deles ainda estão em fase de avaliação da computação de borda.

“A borda está surgindo globalmente. A América Latina está sempre um pouco atrasada, mas o que vimos com a pandemia é que os ciclos de adoção se aceleraram”, explicou.

“O 5G permitirá a aproximar a computação de onde os dados são produzidos”, afirmou Alejandro Dirgan, parte do grupo de especialistas em nuvem híbrida da Red Hat.

A empresa se juntará ao ecossistema de parceiros da IBM e usará o IBM Cloud for Telecommunications, uma solução que permite que os serviços sejam implementados em qualquer lugar: na nuvem, no local ou em tecnologia de borda.

O IBM Cloud for Telecommunications usa uma arquitetura baseada em contêiner que permite que operadoras, empresas e clientes integrem, automatizem e orquestrem a execução de cargas de trabalho de rede e TI em qualquer ambiente.

“Para que os clientes obtenham nossa melhor tecnologia com a maior escala e flexibilidade iniciais, construímos o IBM Cloud for Telecommunications usando o Red Hat OpenShift, e esta estratégia posiciona os parceiros como o mecanismo para impulsionar uma infinidade de possibilidades para os clientes”, pontuou à BNamericas Patricio Espinosa, CEO da IBM Colômbia.

Cirion

Em 2021, o número de clientes latino-americanos que adquiriram os serviços de computação de borda da Cirion (anteriormente Lumen Latin America) dobrou em relação ao ano anterior, segundo a empresa.

“Percebemos um interesse crescente em diferentes setores, principalmente naqueles em que a latência é crítica, como entretenimento, criação de conteúdo, e-commerce e provedores de serviços de nuvem pública”, afirmou Leonardo Barbero, então vice-presidente sênior de produtos e gerenciamento de acesso da empresa para a América Latina.

Ao longo de 2021, a Cirion disse que nós de internet foram adicionados à sua rede em 15 cidades latino-americanas para oferecer mais serviços a mais usuários.

A empresa também disse que implantou 878 km de fibra ótica, adicionou 10 Tb/s de capacidade às suas redes ópticas terrestres e dobrou a capacidade de peering, permitindo mais de 17 Tb/s de troca com outros provedores.

Além disso, também expandiu sua rede de distribuição de conteúdo, que também faz parte do ecossistema de borda.

“Há muita procura. Não apenas operadoras ou hiperescaladoras compram de nós, mas também clientes corporativos que estão começando a adquirir a borda”, disse à BNamericas em agosto Facundo Castro, CEO da Cirion.

“É algo que irá crescer muito, com os clientes exigindo cada vez mais [infraestrutura] para armazenar, processar e decidir as informações mais rapidamente. Acreditamos que estamos muito bem posicionados com datacenters e os muitos nós da rede de fibra, que, por sinal, também podem ser agrupados em nós de borda.”

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