A segurança segue uma questão pendente para a mineração mexicana

Lidar com os altos níveis de insegurança continuará sendo um dos maiores desafios para a indústria de mineração em 2023 no México, onde, embora as ações realizadas pelo atual governo para combater esse flagelo tenham sido recebidas com otimismo, elas não acabam dando os resultados esperados, de acordo com vários stakeholders do setor.

"Acredito que ainda há muito a ser feito em relação à questão da segurança no país em geral, ainda mais em termos de segurança da mineração", disse à BNamericas o vice-presidente de exploração da Reyna Silver, Ariel Navarro, embora tenha descrito a intenção dos governos federal e locais de apoiá-los nessa importante questão. "Espero que haja uma resposta imediata ou melhor do que houve até agora", acrescentou.

A segurança é um grande risco que afeta as mineradoras no México, já que os cartéis de drogas disputam o controle dos principais estados mineradores, como Sonora, Zacatecas, Chihuahua, Durango e Guerrero. Em Sinaloa, no norte do país, uma nova onda de violência foi vivida na quinta-feira (5) em meio a uma operação armada que resultou na prisão de Ovidio Guzmán López, filho do narcotraficante "El Chapo" Guzmán, e deixou pelo menos 29 mortos.

Os desafios nesta matéria se intensificaram nos últimos anos no setor devido à diversificação do crime organizado para outras atividades lucrativas, após o colapso das receitas do narcotráfico.

Mais de dois anos após o governo anunciar, em outubro de 2020, a criação de uma Polícia de Mineração, por meio do Serviço de Proteção Federal (SPF) – órgão descentralizado da Secretaria de Segurança e Proteção ao Cidadão – e o envio das primeiras 120 tropas especializadas à mina de La Herradura de Fresnillo, em Sonora, a insegurança continua sendo uma das principais preocupações do setor.

Nesse momento, o então comissário do SPF, Manuel Espino, anunciou que em breve começariam novos cursos para cobrir as necessidades da indústria em todas as regiões do país, mas este serviço de proteção implica custos para as empresas de mineração e na prática não saiu conforme anunciado.

“Muitos esforços foram feitos, uma Polícia Mineira foi formada, mas não deu o resultado esperado e, no final, são pessoas armadas em minas. Colocar pessoas armadas contra pessoas armadas são coisas às quais nos opomos”, afirmou Luis Humberto Vázquez, presidente da Associação de Engenheiros de Minas, Metalúrgicos e Geólogos do México (Aimmgm), em entrevista recente à BNamericas.

Karen Flores, diretora geral da câmara de mineração Camimex, explicou que a insegurança que existe em geral no México é pior nas regiões mineiras. “Estamos ainda mais suscetíveis a atos ilícitos porque estamos localizados em regiões muito remotas, nas quais já foram registrados atos de insegurança, como roubo de minas e minérios, o que impacta significativamente tanto na segurança do mercado quanto na integridade dos colaboradores no setor de mineração", explicou ela à BNamericas.

Flores acrescentou que eles se reuniram com a Secretaria de Defesa Nacional (Sedena) “para melhor desenvolver essas polícias mineiras e ajudar a enfrentar esse problema”.

No primeiro fim de semana de dezembro, o estado de Zacatecas também viveu um complexo episódio de violência que incluiu bloqueios de estradas após o assassinato do chefe da Guarda Nacional.

O presidente da Camimex, Jaime Gutiérrez, comentou então na apresentação do relatório anual de sustentabilidade que tais eventos são comuns no país, e que a insegurança era "uma taxa adicional de mineração" com custos associados entre 10% e 20% do produto acabado, devido aos roubos.

Em seu último relatório anual, o México ocupava a 34ª posição no índice de atração de investimentos realizado pelo canadense Fraser Institute, mas caiu para a 76ª posição em termos de segurança, segundo o sindicato.

PLANO PILOTO

Atualmente, a polícia mineira do estado de Chihuahua está iniciando operações formais, depois que os primeiros 30 oficiais foram treinados em meados de novembro com o apoio do cluster Clumin em Chihuahua.

O objetivo desse grupo é dar suporte às empresas em questões de transferência e proteção em locais de exploração de mineração, de acordo com o governo do estado.

“Em nível estadual, temos um grande exemplo em Chihuahua, onde foi anunciado recentemente que eles criariam a primeira polícia mineira em nível estadual. Será um piloto, mas consideramos muito positivo para o setor”, comentou a diretoria da Camimex.

“Esperamos que essa polícia mineira não demore para se concretizar, o que para mim é uma iniciativa muito boa, e esperamos também que outros estados a copiem, principalmente onde há muito garimpo e infelizmente muita insegurança, já que praticamente todos os estados sofrem”, lamentou o diretor da Reyna Silver, que opera em Sonora e Chihuahua.

"A polícia normal não tem funcionado bem, pois as forças policiais foram superadas pelo crime organizado e pela corrupção em geral que vivemos em todo o país, embora não possamos minimizar o esforço do governo para remediar a situação", complementou Navarro.

O México é o maior produtor de prata do mundo e um dos principais produtores de ouro e cobre.