Como os players brasileiros de project finance estão se posicionando para 2023?

As extensas e variadas concessões de infraestrutura do Brasil nos últimos anos ainda devem produzir oportunidades de negócios significativas para os players de project finance em 2023, permitindo que os bancos continuem expandindo suas atividades nessa área.

Durante anos, a atividade de project finance no país foi dominada por operações no setor elétrico, mas os negócios tornaram-se mais diversificados nos últimos anos, com áreas como saneamento, infraestrutura logística e telecomunicações, entre outras, ganhando importância para os bancos.

Diante disso, os players têm conseguido definir suas próprias estratégias específicas para focar o que consideram ser as áreas mais convenientes para suas necessidades por uma série de razões.

A BNamericas conversou com os responsáveis pela área de project finance de alguns dos bancos mais atuantes do setor para saber mais sobre suas estratégias de negócios para o próximo ano.

“Um dos segmentos que estamos concentrados é FPSOs [unidades flutuantes de produção, armazenamento e transferência]. Os bancos locais não são muito competitivos no financiamento de FPSOs devido a questões relacionadas à taxa de câmbio, então buscamos ativos neste setor”, disse Daniel O'Czerny, diretor de financiamento de infraestrutura global para a América Latina do Citigroup à BNamericas.

“Cada FPSO representa atualmente US$ 2 bilhões em negócios, e temos demanda de cerca de três ou quatro FPSOs por ano no Brasil. Os bancos mais ativos no segmento de FPSOs têm sido europeus, japoneses e nós. É um setor em que somos líderes e também realizamos muitas operações de refinanciamento”, acrescentou.

Além das áreas de negócios mais tradicionais, os players de project finance também estão de olho em novas fronteiras, como o setor de telecomunicações.

As empresas que atuam no setor de telecomunicações “sempre fizeram muitos investimentos, mas antes essas operações eram feitas com perfil de crédito corporativo. Agora estamos vendo uma mudança de perfil, com muito investimento sendo feito em fibra ótica, além de um grande investimento por operadoras de telecomunicações independentes, que são empresas que oferecem infraestrutura para grandes empresas”, disse Edson Ogawa, chefe da área de project finance do Banco Santander Brasil, à BNamericas.

“As grandes empresas faziam tudo, não compartilhavam infraestrutura. Isso não mudou e essas empresas independentes buscam financiamentos mais ligados ao fluxo de caixa dos projetos e não usando o balanço”, acrescentou.

GIGANTES LOCAIS

As perspectivas positivas para os negócios de project finance no próximo ano também estão atraindo grandes bancos brasileiros, como Itaú Unibanco e Bradesco.

Já atuante em diversas áreas, como saneamento, infraestrutura e telecomunicações, o Itaú vê o setor elétrico como muito promissor para o próximo ano devido a uma mudança esperada na regulamentação.

“Estamos atentos à reforma do setor elétrico, que já vem sendo discutida há algum tempo e me parece estar em um estágio maduro para votação [no Congresso]. Essa reforma, se acontecer, provavelmente vai provocar uma revolução no setor elétrico”, disse Marcelo Girão, head de project finance do Itaú BBA, braço de investimentos do Itaú Unibanco.

“Hoje o setor está focado em leilões de contratos de longo prazo e muitos dos projetos financiados estão lastreados nesses contratos”, Ele continuou.

“Isso será transformador para a dinâmica do setor. Já estamos vendo uma migração de investimentos do mercado regulado para o mercado livre e, abrindo ainda mais esse setor, haverá uma movimentação ainda maior”, acrescentou Girão.

Enquanto isso, o rival local do Itaú, o Banco Bradesco, está estreitando seu foco no setor de saneamento, entre outros.

“Só na área de saneamento, em 2023, há necessidade de operações de refinanciamento de pelo menos R$ 15 bilhões. Esse valor envolve as operações de financiamento que as empresas de saneamento utilizavam para pagar taxas aos governos locais nos leilões de concessão e agora esse financiamento precisa ser renovado”, disse Andréia Bentim, diretora de project finance do braço de banco de investimento do Banco Bradesco, o Bradesco BBI, à BNamericas.

Segundo Bentim, as concessões de água e esgoto continuarão sendo oferecidas a investidores e o setor continuará bastante ativo para financiamentos, já que estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais planejam privatizar suas empresas públicas de serviços de água.