Luz no fim do túnel: perspectivas positivas para novos projetos de energia no Brasil

O Brasil atravessa uma fase de sobreoferta de energia, principalmente em função do grande volume de projetos de energia renovável centralizada e distribuída que vem sendo conectado à rede elétrica. 

Este cenário, aliado aos baixos preços da energia, que refletem a condição hidrológica favorável experimentada nos últimos dois anos, dificulta o desenvolvimento de novos projetos de geração.

 Ainda assim, segundo grandes players do mundo das finanças, haverá demanda para o financiamento de empreendimentos greenfield, sobretudo a médio e longo prazo e considerando-se novas fontes de demanda como o hidrogênio e produtos verdes.

 A BNamericas conversou com Marcelo Souza, sócio e head do setor de energia do Pátria Investimentos; Jorge Abrache, vice-presidente do setor privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF); e Carlos Pinto, country manager do International Finance Corporation (IFC), que é parte do Banco Mundial.

Marcelo Sousa

“Estamos em um momento em que há uma sobreoferta estrutural de energia e preços de energia muito baixos. Essa combinação reduziu a viabilização de novos projetos de renováveis no curto prazo, uma vez que os grandes consumidores livres estão acompanhando os preços de curto prazo baixos e não querem se posicionar em PPAs contratos de compra e venda de energia] de longo prazo mais altos.” 

“Mas isso vai se reverter em algum momento. Nas últimas semanas, já se observa uma volatilidade de preços. Dentro de dois a quatro anos, novos projetos devem ser viabilizados, com novos posicionamentos de grandes consumidores e autoprodutores. Então, acreditamos que seremos capazes de financiar projetos de renováveis nos próximos anos.” 

“A discussão sobre hidrogênio verde e eólicas offshore é uma discussão sobre ‘quando’, não de ‘se’.” 

“O Brasil tem ainda muita área para fazer eólica onshore, com fator de capacidade competitivo, mas acredito que, nos médio e longo prazos, as eólicas offshore serão, sim, uma realidade, na medida em que menos áreas em terra estarão disponíveis” 

“Por ora, ainda há muito potencial onshore, inclusive em termos de energia solar, que tem toda uma avenida para crescer.” 

“Sobre hidrogênio verde, é preciso que nos perguntemos, por exemplo, por que exportamos minério, sendo que poderíamos estar produzindo um aço através de energia limpa e segura. Há uma questão de competitividade, sobre o custo da molécula do hidrogênio verde em relação ao azul, além de desafios tecnológicos, mas essa é uma agenda que acontecerá.”

Jorge Abrache

“O Brasil tem um potencial muito grande, seguramente um dos maiores do mundo, para acolher projetos de investimentos que ajudem a descarbonizar a economia global. Estamos muito confiantes nisso.”

 “Há um interesse crescente sobre o ‘powershoring’ [descentralização da produção para países que ofereçam energia limpa, segura, barata e abundante e que estejam próximos dos centros de consumo]. Essa é uma tese defendida pelo CAF.”

 “O consumo de energia renovável provavelmente vai crescer de forma desproporcional. A oferta vai encontrar demanda. A própria existência dessa oferta acaba criando demanda.”

 “O hidrogênio verde é parte disso. Mas, para que ele avance, é preciso gerar energia eólica, inclusive offshore, e solar, a preços competitivos e de forma segura.”

 “Estamos confiantes de que a regulamentação do mercado de hidrogênio verde vai avançar. É uma questão de tempo, pois os incentivos econômicos são óbvios, e os políticos sabem disso.”

 “Temos interesse em financiar projetos de energias renováveis e hidrogênio verde não apenas no Brasil, mas no Chile, Uruguai, Paraguai, Colômbia, entre outros países.”

Carlos Pinto

“Consideramos que haverá um crescimento natural da demanda por energia e que, em paralelo, vão se criar novas fontes que vão requerer energia elétrica.” 

“O tema do hidrogênio verde, por exemplo, é incontornável, assim como o do metanol verde. Isso tudo irá requerer mais energia renovável, gerando-se uma curva exponencial nos próximos anos.” 

 “Estamos acompanhando esse assunto no Brasil muito de perto. Isso vai acontecer, é certo, mas é um caminho longo, que tem que ser percorrido com calma.” 

 “Ainda temos algumas reservas em relação à energia eólica offshore, pois existe muita capacidade para gerar energia eólica onshore, que é muito mais barata.”