O mundo observa a revolução do hidrogênio na Colômbia

A Colômbia se tornou uma das pioneiras do hidrogênio limpo na América Latina ao colher os benefícios de um claro plano de crescimento do governo, incentivos para investidores, condições ideais para geração de energia renovável e acesso portuário a dois oceanos. Veja a seguir um resumo dos últimos esforços no desenvolvimento de hidrogênios verde e azul na Colômbia.

PLANOS

O Ministério de Minas e Energia da Colômbia revelou seu plano de longo prazo para hidrogênio limpo no ano passado, delineando planos para até 3 GW de capacidade de eletrólise até 2030 e prevendo a adoção em larga escala de veículos com células de combustível.

Além de citar o vasto potencial de produção de hidrogênio verde a partir de fontes renováveis – via eletrólise da água –, o roteiro estabelece uma meta de 50 quilotons de capacidade de hidrogênio azul derivada do gás natural no mesmo período.

Os investimentos no segmento variam de US$ 2,5 bilhões a US$ 5,5 bilhões, com a expectativa de criação de 10 mil a 15 mil empregos.

REGULAMENTOS

Em abril, o governo publicou um projeto de lei que descreve os regulamentos para o uso e produção de hidrogênio. O documento estabelece mecanismos, condições e incentivos que visam promover investimento no desenvolvimento local, inovação, pesquisa, produção, armazenamento, transporte e distribuição.

Também fornece diretrizes relacionadas ao uso de hidrogênio para eletricidade, armazenamento de energia e descarbonização de indústrias.

Os ministérios de Energia e Meio Ambiente terão a tarefa de supervisionar a taxonomia, certificação, condições de captura, utilização e armazenamento de carbono, hidrogênio para uso veicular, produção de combustíveis sintéticos com hidrogênio e derivados, um sistema de informação da cadeia de valor e uma “caixa de proteção regulatória” para pilotos de hidrogênio, de acordo com o decreto.

INCENTIVOS FISCAIS

No início de junho, o Ministério da Energia aprovou uma série de incentivos fiscais para projetos de hidrogênio limpo. O documento afirma que as iniciativas de hidrogênio azul e verde serão elegíveis para os mesmos incentivos fiscais que os desenvolvimentos de energia renovável não convencional.

Eles incluem deduções do imposto de renda de até 50% dos investimentos, isenção do imposto sobre valor agregado sobre equipamentos e serviços e depreciação acelerada.

Uma resolução que define critérios relacionados a investimentos em bens e serviços e procedimentos para solicitar benefícios adicionais pode ser vista aqui, em espanhol.

EXPORTAÇÕES, ALIANÇAS

A Colômbia e a Alemanha avançaram este mês com planos para desenvolver conjuntamente iniciativas de energia limpa com o objetivo de transformar o país sul-americano em um centro de exportação de hidrogênio.

Entidades públicas e privadas dos dois países participaram de conversas visando identificar opções de financiamento e acelerar a produção.

“O que queremos é ter custos competitivos até 2030 no mercado local e 2050 no mercado internacional para podermos gerar cadeias de valor”, disse o ministro de Comércio Exterior da Colômbia, Germán Umaña.

Um relatório publicado pelo Fórum Internacional de Energia (IEF) em junho citou a Colômbia como um dos quatro prováveis exportadores de hidrogênio na América Latina, ao lado de Brasil, Chile e Argentina.

Em um relatório separado, a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) disse que a Colômbia apresenta potencial para ter o quarto preço de hidrogênio verde mais baixo do mundo em 2050, superado apenas pela China, Chile e Marrocos.

FINANCIAMENTO

O governo está financiando estudos de viabilidade para 10 projetos de hidrogênio como parte de um plano mais amplo para impulsionar o investimento no setor nascente.

Os desenvolvedores selecionados em um processo de licitação competitiva são VATIA, Busscar de Colombia, Energal BioGas, Solenium, H2NOSTRUM, H2 Andes, TE H2, Sociedad De Gestión Grupo TW Solar Colombia e Universidad de Antioquia, de acordo com um comunicado do Ministério de Minas e Energia.

Os desenvolvedores serão responsáveis por fornecer estudos de pré-investimento para a cadeia de valor do hidrogênio verde e azul, com financiamento fornecido pelo programa de energia renovável Fenoge do governo.

O apoio também tem vindo da comunidade bancária internacional.

O Banco Mundial aprovou este mês um empréstimo de US$ 1 bilhão para financiar expansões de capacidade de energia renovável e desenvolver uma indústria de hidrogênio verde.

E em novembro, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) convocou manifestações de interesse para um contrato de consultoria para a produção de ureia a partir de hidrogênio verde.

ECOPETROL

No início deste mês, a estatal petrolífera Ecopetrol delineou planos para investir até 6,8 trilhões de pesos (US$ 1,4 bilhão) em projetos de energia renovável, hidrogênio e eficiência energética no próximo ano.

O valor faz parte de um plano de investimento orgânico de 25,3 trilhões a 29,8 trilhões de pesos em 2023.

Em julho, a Ecopetrol e a Toyota assinaram um contrato de três anos para realizar testes de mobilidade em veículos movidos a hidrogênio verde.

E em maio, a francesa Total Eren, a alemã Siemens Energy e o grupo japonês Mitsui estavam entre as seis empresas selecionadas pela Ecopetrol para desenvolver em conjunto projetos de hidrogênio limpo no país. A empresa espanhola H2B2, a Empati, com sede no Reino Unido, e a concessionária francesa EDF também foram escolhidas “como aliadas estratégicas” para a construção de hidrogênio proposta pela Colômbia.

A Ecopetrol começou este ano a produzir 20 kg/d de hidrogênio verde a partir de uma planta eletrolisadora de 50 kW em sua refinaria de Cartagena.

PROMIGAS

Também em maio, a transportadora local de gás Promigas e a japonesa Sumitomo assinaram um acordo para investir em conjunto na mobilidade por hidrogênio. Na primeira fase, a aliança se concentrará em estudos para determinar oportunidades e desafios para a produção, distribuição e comercialização de hidrogênio para veículos elétricos na Colômbia e no Peru.

“Este acordo... visa identificar segmentos de mercado e empresas da região para a implementação de pilotos comerciais de mobilidade elétrica com hidrogênio, uma fonte de energia cada vez mais relevante na economia global devido ao seu potencial para reduzir as emissões de CO₂ do setor de transportes”, disse o presidente da Promigas, Juan Manuel Rojas.

No início deste ano, a Promigas anunciou o início de um projeto-piloto para combinar hidrogênio com gás em sua rede de dutos.

GEB

O Grupo Energía Bogotá (GEB) é outra empresa que está entrando no segmento de hidrogênio. Em setembro, o CEO Juan Ricardo Ortega se reuniu com autoridades alemãs e líderes empresariais para trocar conhecimento e discutir futuras cooperações.

E no início deste mês, o GEB assinou um memorando de entendimento com a Ecopetrol, a Promigas e o Ministério da Energia para trabalhar em conjunto em projetos de sustentabilidade, incluindo o hidrogênio.

“As entidades trabalharão juntas para fortalecer o intercâmbio científico para mitigar as barreiras técnicas relacionadas à ambiciosa e ordenada transição energética”, disse o ministério.