Bolívia , Chile e Argentina
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Presença chinesa no Triângulo do Lítio sul-americano gera tensões geopolíticas

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Presença chinesa no Triângulo do Lítio sul-americano gera tensões geopolíticas

A entrada de investimentos chineses em projetos localizados no chamado Triângulo do Lítio sul-americano está gerando tensões geopolíticas em um momento em que nações ao redor do mundo aceleram a eletrificação de suas economias e buscam um suprimento suficiente dos metais e minerais necessários.

O Triângulo de Lítio é uma área de importância estratégica que abrange partes do norte da Argentina e do Chile e sul da Bolívia. Estima-se que a região concentre de 50% a 80% dos recursos mundiais do valioso metal branco.

As mineradoras chinesas Tibet Summit, Ganfeng Lithium, Tsingshan e Zijin Mining estão injetando milhões de dólares na indústria argentina de lítio, enquanto no Chile a Tianqi Lithium tem se esforçado para obter a aprovação da autoridade antitruste para um acordo que lhe daria uma participação majoritária na empresa local SQM. A BYD, por sua vez, está se preparando para construir sua primeira fábrica de materiais catódicos. Na Bolívia, o consórcio chinês formado pela CBC, Citic Guoan e TBEA Group está avançando na incorporação de tecnologias de extração direta para acelerar a produção em salmouras de lítio.

“A forte presença de empresas chinesas na indústria de lítio argentina tem implicações geopolíticas, especialmente na relação com os Estados Unidos, atingindo níveis de risco”, comentou Marina Pera, analista associada da consultoria Control Risks, com a BNamericas.

Há uma certa rivalidade entre os Estados Unidos e a China pelo lítio argentino. Nos primeiros quatro meses do ano, a China foi o destino de 28% das exportações argentinas do metal, enquanto os Estados Unidos receberam 13% dos envios, segundo dados do Ministério da Economia da Argentina.

No Chile, a nova estratégia do lítio apresenta desafios diferentes. “A primazia do Estado representará um risco para as empresas privadas, dada a possibilidade de interferência da lógica política em decisões que deveriam ser técnicas”, alertou Leandro Lima, analista sênior da Control Risks para o Cone Sul.

Embora a China seja atualmente o terceiro maior produtor mundial de lítio, atrás da Austrália e do Chile, ela não produz o suficiente para manter a liderança na fabricação de baterias de íons de lítio e veículos elétricos e, por isso, precisa fortalecer o abastecimento por outros países, em especial da América do Sul.

A rápida expansão da eletrificação na China e o aumento da fabricação de bens e componentes necessários para a transição energética fizeram com que a demanda por lítio crescesse a uma taxa de 10% ao ano, segundo dados da Comissão Chilena do Cobre (Cochilco).

Os Estados Unidos definiram um plano estratégico para limitar sua dependência da nação asiática e assinaram um acordo com a Austrália para estabelecer uma colaboração bilateral para a transformação energética.

Enquanto isso, no final do ano passado, o governo canadense ordenou que a Chengxin Lithium e a Zangge Mining retirassem seus investimentos de mineradoras canadenses devido a preocupações com a segurança nacional e o fornecimento de minerais críticos, após a imposição de restrições ao investimento estrangeiro em matérias-primas essenciais usadas na fabricação de telefones celulares, veículos elétricos, células solares e outras tecnologias.

MINERADORAS CHINESAS NA ARGENTINA

Tibet Summit, Ganfeng e Tsingshan investiram grandes somas na província de Salta, no noroeste da Argentina. A primeira planeja gastar US$ 2,2 bilhões para produzir carbonato de lítio para baterias no salar de Diablillos e construir uma usina no salar de Arizaro, com expectativa de iniciar a produção em 2024.

A Ganfeng, por sua vez, é proprietária do projeto Mariana, que visa produzir 20.000 t/ano de cloreto de lítio (10.000 t/ano de carbonato de lítio equivalente) em uma primeira fase, segundo seu relatório anual. Também comprou o grupo minerador Lithea por US$ 962 milhões e adquiriu os direitos sobre as salinas Pozuelos-Pastos Grandes.

A Tsingshan detém 49,9% do projeto Centenario Ratones, em Salta, e anunciou que dobrará seu investimento para aumentar a produção para 50.000 t/ano de carbonato de lítio equivalente a partir de 2024.

Em Jujuy, a Ganfeng é a sócia majoritária em Caucharí-Olaroz, cujo projeto de US$ 979 milhões já foi iniciado e visa volumes de 40.000 t/ano de carbonato de lítio para baterias a partir do próximo ano, com planos de expansão.

A Zijin Mining iniciou a construção de uma planta em Tres Quebradas, cidade da província de Catamarca, com um investimento de US$ 380 milhões para produzir 20.000 t/ano de carbonato de lítio equivalente em uma fase inicial. A companhia também pretende expandir o projeto em um futuro próximo.

MINERADORAS CHINESAS NO CHILE

A Tianqui tem uma participação de 25,86% na chilena SQM e tem buscado ampliar sua influência nos negócios da produtora. No entanto, a FNE, regulador da concorrência no país, rejeitou essa opção por considerar o fato de a companhia ter acesso a informações comerciais da SQM um risco.

A alta concentração da Tianqi no mercado internacional de lítio, aliada à participação em uma sociedade (Talison) com a líder norte-americana Albemarle, que assim como a SQM também produz no Salar do Atacama, não passou despercebida.

A contribuição combinada da SQM, Tianqi e Albemarle representou 60% da produção global da CLE no ano passado, segundo dados da Benchmark Intelligence Mining citados pela FNE. Embora a proporção tenda a diminuir nos próximos dois anos, a produção de hidróxido de lítio das três empresas deve aumentar no mesmo período para um máximo de 40% do total mundial, apontou a FNE.

A subsidiária local da BYD, grupo fabricante de veículos elétricos, foi a primeira a vencer uma licitação da agência estatal de desenvolvimento Corfo. Com isso, receberá 11.244 t/ano de carbonato de lítio equivalente da SQM a um preço preferencial até 2030, em troca da construção de uma planta de cátodos de lítio com capacidade de 50.000 t/ano na região de Antofagasta. O investimento será de pelo menos US$ 290 milhões e tem como objetivo agregar valor conforme estabelecido na nova estratégia nacional.

ENTRADA CHINESA NA BOLÍVIA

A CBC acertou com a estatal Yacimientos de Litio Bolivianos (YLB) a instalação de dois complexos industriais com tecnologia de extração direta nos salares de Coipasa, no departamento de Oruro, e Uyuni, no departamento de Potosí, anunciou o governo.

Na mesma chamada, as empresas Citic Guoan e TBEA Group foram selecionadas para fornecer tecnologias que permitam acelerar a produção e industrialização de lítio em salmouras bolivianas, segundo nota da YLB.

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