Brasileira TIM espera retorno dos investimentos em 5G em 2023

A operadora brasileira de telecomunicações TIM espera poder monetizar seus investimentos em 5G, principalmente na banda prime de 3,5 GHz, em 2023, quando o capex 4G deve cair, segundo o CEO Alberto Griselli.

“Queremos desencadear um ciclo virtuoso em que a cobertura, a oferta e os terminais forneçam aos clientes um motivo para migrar para o 5G”, disse Griselli, na teleconferência de resultados do segundo trimestre, em resposta a uma pergunta da BNamericas sobre o ROI esperado do 5G.

Griselli acrescentou que a estratégia da TIM contempla uma cobertura 5G significativa em mercados considerados críticos do ponto de vista comercial e de custos – o que significa não apenas o lançamento nas capitais, obrigatório para esta primeira etapa do 5G em 3,5GHz, mas potencialmente também em outros grandes centros urbanos.

Significa também implantar muito mais antenas do que o mínimo exigido pelo regulador Anatel para esta fase do serviço.

Segundo Griselli, o 5G se tornará mais difundido no Brasil no ano que vem, quando a TIM poderá “deixar de investir em 4G e ser mais eficiente na implantação de sua rede”.

A TIM está apostando em oferecer os chamados recursos de reforço para que os clientes possam experimentar a tecnologia enquanto promove fortemente smartphones compatíveis com 5G, disse Griselli. Cerca de 70% dos dispositivos oferecidos pela TIM são compatíveis com 5G, acrescentou.

ROAMING

Durante a teleconferência, Griselli disse que a TIM espera um resultado favorável das negociações com a Anatel sobre a oferta de roaming para empresas de telecomunicações menores. O roaming foi uma condição imposta pela Anatel e pelo órgão antitruste Cade para aprovar a aquisição por 16,5 bilhões de reais (US$ 3,15 bilhões) das operações móveis da Oi pela TIM, Claro e Telefônica Brasil.

No entanto, divergências sobre o preço do roaming entre o trio e a Anatel desencadearam medidas legais e uma ameaça do presidente da Anatel, Carlos Baigorri, de que a aquisição poderia ser desfeita.

“Nos encontramos com o presidente da Anatel, na semana passada. O negócio da Oi não está em jogo, agora. O que está pendente entre nós é o preço certo do acordo de roaming”, disse Griselli.

Em 29 de julho, a TIM apresentou uma nova oferta menor de 4,91 reais por gigabyte – ainda 2 reais a mais do que a Anatel exige.

5G

Assim como a Telefônica Brasil e a Claro, a TIM ativou o 5G na faixa de 3,5 GHz em Brasília e nas capitais Belo Horizonte, João Pessoa e Porto Alegre. Em São Paulo, o 5G será ativado no dia 4 de agosto durante um evento especial.

O requisito mínimo de cobertura da Anatel para a cidade envolve a instalação de 462 antenas em uma primeira fase pelas três operadoras até o final de setembro, traduzindo-se em uma antena por operadora por 100 mil habitantes. Mas o número de pedidos de licença sugere que 1.300 antenas podem operar desde o primeiro dia.

Griselli destacou a estratégia agressiva de cobertura 5G da TIM.

Em Brasília, por exemplo, a TIM instalou quase 170 antenas 5G na faixa de 3,5GHz. Todos as três operadoras combinadas instalaram 335 dessas antenas, enquanto o requisito mínimo para a primeira fase era de 114 antenas de todos os players.

No geral, a TIM investiu 1,05 bilhão de reais no segundo trimestre e 2,37 bilhões de reais no primeiro semestre, um aumento de 15,9% e 6,6% ano a ano. O aumento era esperado em meio ao start-up do 5G e à integração dos ativos móveis da Oi, disse a TIM em seu relatório financeiro. No semestre, o capex correspondeu a 23,6% da receita líquida.

A receita líquida totalizou R$ 5,36 bilhões no segundo trimestre, um aumento de 21,8% em relação ao ano anterior, com todas as linhas de negócios contribuindo positivamente. A TIM afirmou que o crescimento trimestral, excluindo os efeitos da aquisição da Oi, foi “o melhor em mais de 10 anos”.

Mas a dívida normalizada (efeitos pós-hedge) também subiu para 18,1 bilhões de reais em junho, aumentando 5,86 bilhões de reais ano a ano. A dívida líquida total foi de 2,49 bilhões de reais, dos quais 889 milhões de reais relacionados a licenças 5G e 4G.

De acordo com a TIM, o maior endividamento está relacionado a arrendamentos financeiros decorrentes da aquisição dos ativos móveis da Oi no valor de R$ 2,9 bilhões, principalmente vinculados ao descomissionamento de torres e antenas. Também inclui um novo empréstimo de R$ 1,6 bilhão do Scotiabank.

Flavio Conde, analista financeiro da Levante Ideias de Investimentos, espera que o aumento da dívida da TIM seja recuperado (payback) em dois ou três anos, com maior geração de caixa proveniente dos clientes móveis da Oi e serviços 5G. Mas as ações da TIM podem ser impactadas negativamente.

“O mercado está muito reticente em comprar ações e ações em geral. O investidor que permanece na bolsa é aquele que busca um céu claro e brilhante. Eles querem uma empresa que pague um dividendo enorme, tenha dívidas baixas e cresça em receita”, disse Conde à BNamericas.

Embora a receita da TIM esteja crescendo, ela paga dividendos menores em comparação com seus pares e aumentou sua dívida, disse Conde.

Apesar de apresentar bons resultados operacionais nos últimos trimestres, as ações da TIM vêm caindo. “O mercado não está em um bom momento, mas o valor da ação da TIM certamente é injusto”, acrescentou Conde.

“O investidor abre o jornal e vê turbulência política, eleição, recessão global. Eles se abstêm de comprar ações. O volume é baixo, os telefones das tradings não tocam e só as blue chips [ações da Petrobras e da Vale, por exemplo] estão tendo um bom desempenho.”