Chile lança usina piloto de hidrogênio verde em Magalhães, em meio a rumores de expansão

As autoridades inauguraram a usina pioneira de combustíveis sintéticos (e-fuels) Haru Oni, na região de Magalhães, no extremo sul do Chile, enquanto a desenvolvedora do projeto, Siemens Energy, e a coproprietária da planta, HIF Global, dizem à BNamericas que estão trabalhando em vários outros projetos na região rica em recursos eólicos do país.

O lançamento, realizado nesta terça-feira (20) com a presença de ministros, dignitários locais e estrangeiros e interessados do setor privado, foi saudado como um momento histórico na luta contra as mudanças climáticas e no desenvolvimento da nascente indústria de hidrogênio verde do Chile.

Construída em parceria com empresas como a estatal de hidrocarbonetos Enap, a gigante do petróleo ExxonMobil e a montadora – e offtaker – Porsche, a planta reflete cerca de US$ 100 milhões em desembolsos, que envolvem subsídios dos governos chileno e alemão e investimentos privados.

Copertencente a uma unidade chilena da Enel, o complexo de geração e produção de energia em Punta Arenas é o primeiro do gênero no mundo e produzirá inicialmente 130.000 l/ano de e-gasolina, uma taxa de produção que deve subir para 550 MMl/ano e até 2027.

André Clark, vice-presidente sênior do hub da Siemens Energy na América Latina, disse à BNamericas que o projeto é uma conversão bem-sucedida de um conceito do departamento de P&D em um protótipo funcional e demonstrou a importância dos ecossistemas de desenvolvimento de projetos.

“O significado deste lançamento é que ele mostra que é possível, que pode ser feito”, afirmou Clark.

A Porsche será a primeira compradora do combustível, que pode ser usado em motores a gasolina sem a necessidade de modificações.

Usando um eletrolisador da Siemens Energy de 1,2 MW, tecnologia sob licença da ExxonMobil, e energia limpa de uma turbina eólica de 3,5 MW, os engenheiros da Haru Oni estão fabricando e-gasolina a partir de e-metanol, produzido, por sua vez, a partir de hidrogênio verde e dióxido de carbono capturados da atmosfera.

A Siemens Energy está envolvida em empreendimentos similares de transição energética na região, principalmente no Brasil e no Chile, por conta de seus recursos de energia eólica “enormes e de alta qualidade”, comentou Clark.

No Chile, a empresa está colaborando com outras companhias em projetos, sobretudo na região de Magalhães.

“Somente no Chile estamos vendo de 8 a 9 projetos de hidrogênio verde em escala de gigawatts sendo estudados”, disse Clark, acrescentando que eles estavam nos estágios de viabilidade e pré-viabilidade. “Estamos envolvidos tanto na geração de hidrogênio quanto na geração de energia eólica porque estamos presentes em toda a cadeia de valor. Os clientes nos procuram para fazer esses estudos: quanto custa, qual a viabilidade, qual o fator de capacidade, por exemplo. Estamos ajudando os clientes nesse sentido.”

O Chile abriga cerca de 36 projetos de hidrogênio verde, com os maiores planejados para Magalhães, que, com terrenos abundantes e ricos recursos energéticos, está prestes a se tornar um polo de energia verde. Os desafios estão em áreas como planejamento territorial, treinamento de habilidades e licenciamento.

O serviço de avaliação ambiental SEA – já processando mais projetos do que sua capacidade prevista originalmente – está passando por uma revisão como parte das iniciativas governamentais de produtividade e promoção de investimentos.

O QUE VEM A SEGUIR?

Projetos multibilionários em escala de exportação já foram anunciados: H2 Magallanes, Faro del Sur, HNH Energy e Gente Grande.

O Chile tem como meta ter 25 GW de capacidade instalada de eletrolisadores até 2030 e pelo menos 3 GW em construção em 2025.

EXPANSÃO DE HARU ONI

César Norton, CEO da HIF Global, citou a importância do lançamento de Haru Oni.

“Esse é um marco importante”, disse Norton. “Nós provamos que é possível produzir combustíveis sintéticos, neutros em carbono, usando o vento, nós transformamos isso em realidade.”

A HIF está planejando uma grande ampliação de Haru Oni como parte dos planos de expansão global. No Chile, as autoridades estão trabalhando em uma declaração de impacto ambiental revisada para o parque eólico Faro del Sur, vinculado ao projeto de hidrogênio verde de Magalhães, que foi retirado do sistema de licenciamento ambiental no início deste ano após acusações de uma mudança repentina nos requisitos.

“Em relação a Faro del Sur, estamos trabalhando com as autoridades, com o governo local e federal, para apresentar o projeto o mais rápido possível – e com certeza apresentaremos”, disse Norton.

O sul do Chile está na mira da empresa.

“Nosso plano é produzir pelo menos seis plantas em escala global aqui em Magalhães até 2032”, revelou Norton. A produção seria suficiente para abastecer 5 milhões de carros.

Embora a eletrificação do transporte seja uma estratégia fundamental para a descarbonização, cerca de 1,3 bilhão de veículos com motor de combustão interna estão nas ruas hoje em todo o mundo, uma quantidade que deve continuar estável por pelo menos mais uma década. A produção de combustíveis sintéticos para substituir os combustíveis fósseis é vista como uma parte fundamental da solução.

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Aproximadamente do tamanho da Grécia, Magalhães é a maior região do Chile.

Representantes do governo nacional e local disseram que o hidrogênio verde constitui uma grande oportunidade de desenvolvimento sustentável para a jurisdição.

Podem surgir oportunidades em áreas como infraestrutura, fabricação de pás de turbinas e no segmento downstream, como fertilizantes verdes.

O ministro da Energia chileno, Diego Pardow, fotografado abastecendo um veículo com e-fuel, disse durante o evento que o projeto era um “farol de otimismo”. E acrescentou: “Temos de aproveitar a cadeia de valor e criar oportunidades concretas para os locais”.