Complexo da Ternium segue paralisado em protesto após desaparecimento de ativistas

Há mais de duas semanas, membros da comunidade local que trabalhavam na mina e na usina de processamento Aquila-Las Encinas da siderúrgica Ternium, no México, suspenderam os trabalhos para protestar contra o desaparecimento de dois líderes locais.

Antonio Díaz, líder comunitário do município de Aquila, e o advogado de direitos humanos Ricardo Lagunes desapareceram em 15 de janeiro. Ambos haviam criticado o impacto ambiental da mina de minério de ferro Aquila, no estado de Michoacán, e da usina de processamento de Las Encinas, no estado vizinho de Colima.

O presidente Andrés Manuel López Obrador afirmou em entrevista coletiva no dia 20 de janeiro que o governo federal está investigando o caso, enquanto as autoridades estaduais, o Exército e a Guarda Nacional procuram os desaparecidos.

Os familiares exigiram publicamente que a Ternium, controlada pelo grupo argentino Techint, usasse sua influência para encontrar os ativistas vivos, dado o poder da siderúrgica na região.

Em um comunicado publicado no Twitter em 20 de janeiro, a Termium se solidarizou com os familiares e a comunidade e disse que a empresa estaria “em contato permanente com as autoridades para saber detalhes da evolução do caso”.

“A única comunicação que tivemos foi por telefone, e só depois da coletiva de imprensa do presidente. Eles publicaram um tweet nas redes sociais e depois ligaram para os familiares diretos de Antonio e Ricardo”, contou à BNamericas María Ramírez, esposa de Ricardo Lagunes, em uma videochamada de Michoacán.

“Sem novidades com a empresa, não voltamos a nos falar. A mina também não está funcionando. Só entram os guardas”, acrescentou Ramírez na segunda-feira (6).

A BNamericas consultou a Ternium México sobre a situação atual do complexo siderúrgico e sua colaboração com as autoridades, mas até a publicação deste artigo não houve resposta.

O complexo informa que processa entre 12.000 t/d e 15.000 t/d de minério de ferro, mas Ramírez e um membro da comunidade que preferiu manter anonimato relataram que a média mais confiável é de 7.446 t/d para o período entre junho de 2021 e junho de 2022.

Ramírez mencionou que Díaz e Lagunes estavam trabalhando para que as autoridades locais reconhecessem o registro dos membros da comunidade da região e convocassem uma eleição para o comissário de propriedades, encarregado de administrar as expansões de operações de mineração no território. Díaz seria apresentado como candidato, segundo Ramírez, que acrescenta que há anos um grupo supostamente relacionado com a Ternium pressiona para conseguir o “controle absoluto” da comunidade e de seus recursos.

De acordo com Ramírez, a comunidade pediu aos governadores de Colima e Michoacán que solicitem a intervenção da Ternium e adotem as medidas judiciais necessárias para evitar a tomada de decisões que possam afetar Aquila sem a presença de Díaz e Lagunes.

“Eles já estão agindo para limpar os registros de moradores com a intenção de remover seus oponentes e manter o controle da comunidade”, destacou Ramírez.

Michel Cervantes, advogado da ONG Ideas, disse em uma entrevista coletiva recente que havia três investigações paralelas sobre o caso, nos estados de Michoacán e Colima e na Procuradoria-Geral da República.