Guatemala autoriza exploração a céu aberto de Cerro Blanco apesar de advertências de ambientalistas

O governo da Guatemala autorizou este mês a empresa canadense Bluestone Resources a operar o projeto a céu aberto Cerro Blanco, em meio a alertas de ambientalistas de que as atividades poderiam contaminar as águas locais e de El Salvador.

A Bluestone informou em um comunicado que o Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais “aprovou a modificação da licença ambiental para o projeto de ouro Cerro Blanco, a fim de alterar o método de mineração de desenvolvimento subterrâneo para desenvolvimento a céu aberto”.

“O Ministério de Energia e Minas [MEM] também atualizou, por meio de uma resolução, a licença de mineração aprovada do projeto, para refletir a modificação da licença ambiental e a alteração do método de exploração a céu aberto”, acrescentou a empresa, que solicitou a mudança na licença ambiental em novembro de 2021.

A empresa sediada em Vancouver, que desde 2017 é proprietária do projeto, avaliado inicialmente em US$ 572 milhões, afirmou que, embora alguns elementos do projeto tenham aumentado em termos de tamanho, as características fundamentais não foram alteradas, inclusive a planta de processamento, o depósito de rejeitos secos, a gestão de água, a infraestrutura e as instalações.

O jornal La Prensa Gráfica lembrou que, em fevereiro de 2022, a Aliança Centro-Americana contra a Mineração (Acafremin) relatou que as mudanças solicitadas pela Bluestone “iam do processamento de 1.000 t/d de material para o processamento de 10.952 t/d, além da extração de 3,31 milhões toneladas [Mt] de material em um túnel de 73,4 km para a extração de 144,8 Mt em cavas com profundidade de até 370 m e 1.200 m de comprimento”.

“Todo esse material posteriormente se transforma em lixo, que é depositado em morros e gera drenagem ácida e poeira prejudicial à saúde”, destacou a Acafremin, uma das organizações ambientalistas que garantiu, em diversas ocasiões, que o projeto representa um risco não só para a Guatemala, mas também para El Salvador.

O projeto de ouro, cuja vida útil é estimada em 14 anos, fica localizado no sudeste da Guatemala, no departamento de Jutiapa, a aproximadamente 9 km a oeste da fronteira com El Salvador, segundo a empresa, e a 160 km por estrada da Cidade da Guatemala, capital do país.

A Bluestone, que já concluiu o estudo de viabilidade do projeto, espera atingir 347.000 oz/ano de ouro no pico de produção.

Ambientalistas apontaram que a mina despejará resíduos no rio Ostúa, que margeia o lago Güija e o rio Angue de Metapán, que, por sua vez, deságuam no rio Lempa, principal afluente de El Salvador.

Para a Acafremin, a mineração a céu aberto é “muito mais agressiva para o meio ambiente e perigosa para a saúde humana”. A entidade considera que o pedido da Bluestone para modificar a licença ambiental é uma “nova tentativa de violar as leis ambientais da Guatemala e evitar a execução do devido processo que implica, entre outras coisas, a realização de uma ampla consulta nas comunidades que seriam diretamente afetadas por esta mudança”.

Por conta dessas preocupações, em setembro de 2022, mais de 7.400 habitantes de Asunción Mita rejeitaram a construção deste e de outros projetos de mineração em uma consulta realizada pela prefeitura do município. No entanto, o MEM ignorou os resultados, argumentando que o processo havia sido conduzido em desacordo com a lei e, além disso, já tinha sido suspenso provisoriamente por um tribunal.