Peru soma crise de gabinete à recessão econômica

Um novo capítulo de uma crise política que parece ser permanente no Peru afeta o gabinete da presidente Dina Boluarte, que perdeu dois ministros nos últimos 10 dias. A crise coincide com a entrada da economia em recessão.

Depois de ter censurado o ministro do Interior, Vicente Romero, que teve de renunciar por conta dos maus resultados no combate à criminalidade, o Congresso apresentou uma nova moção de censura contra Óscar Vera, ministro de Energia e Minas (Minem).

No início deste mês, a ministra de Relações Exteriores, Ana Gervasi, renunciou ao cargo em meio a polêmicas sobre a viagem de Boluarte aos Estados Unidos para se reunir com seus homólogos internacionais na Cúpula da APEP, onde não conseguiu participar de uma reunião bilateral bastante esperada com o presidente norte-americano Joe Biden.

As mudanças no gabinete adicionam ainda mais estabilidade a um cenário incerto, dominado por uma economia cujas projeções indicam uma contração pelo terceiro trimestre consecutivo no terceiro trimestre deste ano, após quedas de 0,4% no primeiro trimestre e 0,5% no segundo.

O indicador de confiança empresarial elaborado pelo Instituto Peruano de Economia mostrou que o setor privado tem expectativas negativas a respeito da economia, enquanto o consumo segue estagnado.

Não é a primeira vez que o Poder Legislativo tenta censurar o ministro Vera, que mantém uma boa relação com as mineradoras que atuam no país. Em setembro, o Congresso apresentou, sem sucesso, uma moção contra ele por, entre outras acusações, supostos conflitos de interesse com a Petroperú. Agora, o ministro é acusado de apresentar uma resposta insuficiente à contaminação das bacias hidrográficas da região de Puno.

Sua saída pode comprometer o andamento de projetos de mineração como a Continuidade Operacional de Antamina. Embora o Governo tenha indicado que todas as certificações pendentes serão obtidas este ano, a modificação do estudo de impacto ambiental para prolongar a vida útil da mina de 2028 para 2036 ainda não foi aprovada.

A falta de continuidade nos ministérios já trouxe complicações em outras pastas, como o Ministério de Transportes e Comunicações (MTC), colocando em risco a concessão de grandes obras, como o Anel Viário Periférico de Lima, de US$ 2 bilhões.

Lucas Ghersi, advogado constitucional, considera que a censura de Romero foi um erro, já que não resolverá os problemas subjacentes e, mais uma vez, normaliza o ato de questionar e remover agentes públicos sem maiores explicações. “É algo que pode desestabilizar o país [...] e abre as portas para uma recomposição total do gabinete”, disse o advogado em entrevista à imprensa local.