Raio-x: a situação da geração de energia e de projetos de hidrogênio no Uruguai
O Uruguai, país de vanguarda em termos energia limpa, acaba de sair de uma seca devastadora que afetou o abastecimento de água potável na capital Montevidéu e a produção hidrelétrica entre setembro de 2022 e agosto deste ano.
No meio de chuvas abundantes, os fluxos de água para sua principal hidrelétrica – Salto Grande, que representa 19% da capacidade instalada do país – voltaram ao normal, registando em outubro um nível não visto desde janeiro de 2019.
Durante a seca, por oito meses consecutivos a produção média de Salto Grande caiu 70% em comparação com os níveis esperados, disse a consultoria local de energia SEG Ingeniería à BNamericas. Na bacia do Rio Negro, onde ficam as outras três barragens hidrelétricas do Uruguai, a produção caiu 88% em comparação com as leituras médias.
No entanto, a produção de energias renováveis durante o período, principalmente graças ao forte investimento em parques eólicos, representou 89% da produção. A produção termelétrica representou 11%, percentual bastante abaixo dos 48% registrados durante a seca no Uruguai de março de 2008 a julho de 2009, antes do aumento da capacidade eólica do país.
Novembro teve produção de 99,3% da energia a partir de fontes renováveis, com a matriz eólica respondendo por 44,2%, a hidrelétrica por 39,1%, a biomassa por 12,1% e a energia solar fotovoltaica por 3,9%. O relatório anual de energia do Uruguai de 2022 afirma que a capacidade térmica alimentada por combustíveis fósseis é de 1,18 GW, energia hidrelétrica 1,54 GW, energia eólica 1,52 GW, biomassa 417 MW e energia solar fotovoltaica 280 MW.
A BNamericas pediu ao fundador da SEG Ingeniería, Fernando Schaich, um retrato de alguns outros aspectos do setor energético do país. Com escritórios em Montevidéu e em Santiago, Chile, além de projetos de hidrogênio renovável/verde no México, Colômbia, Peru, Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, a SEG oferece consultoria e outros serviços nas áreas de eficiência energética, energia renovável, eletromobilidade, gestão de plantas e segmentos de hidrogênio verde.
BNamericas: Em relação à futura expansão do parque gerador, o pilar central do plano da concessionária estatal UTE continua sendo a energia solar fotovoltaica?
Schaich: Sim, e de fato a UTE anunciou há alguns meses a construção de usinas solares fotovoltaicas: cerca de 25 MW no sul e cerca de 75 MW mais ao norte – a localização ainda é incerta. A ideia é lançar licitações para as obras civis e montagem, mas elas serão operadas e gerenciadas pela UTE. Talvez no futuro e. dependendo da cor política do próximo governo, mais geração possa ser adicionada – seriam necessários pelo menos 100 MW por ano – de empresas privadas ou de uma mistura entre privadas e UTE.
BNamericas: Qual é a situação em relação à regulamentação dos contratos privados de compra de energia? Por exemplo, no ano passado houve anúncios sobre a possibilidade de reconhecer a capacidade firme das centrais de energias renováveis.
Schaich: Há alguns meses surgiu o decreto que reconhece a capacidade firme das energias renováveis. O cálculo é complexo e baseia-se nas horas críticas do sistema. A ADME [administradora do mercado de energia do Uruguai] deve fazer o cálculo para cada caso, mas, em geral, espera-se que seja semelhante ao fator de capacidade de cada tecnologia.
BNamericas: No Chile, há um forte foco em sistemas de armazenamento de baterias. No Uruguai, há necessidade de baterias hoje ou no futuro?
Schaich: No curto prazo, não creio que haverá muita força no Uruguai. De fato, houve uma licitação mas foi anunciado que não estava claro se este sistema seria instalado. É importante notar que ter uma base hidrelétrica responsável por cerca de 40% da produção por meio de três usinas que a energia hidrelétrica pode desempenhar um papel de bateria, primeiro despachando energia solar e eólica – com custos marginais iguais a zero. No Chile, é muito mais justificado devido aos elevados níveis de redução da energia solar fotovoltaica que existe no sistema, especialmente no norte.
BNamericas: Qual é a situação atual no Uruguai em relação aos projetos de hidrogênio verde? Por exemplo, há pilotos em construção? Quando será possível ver o início da construção etc.?
Schaich: Por enquanto não há nada em construção. Existem cerca de três ou quatro projetos anunciados. Por ordem de antiguidade no seu desenvolvimento são os seguintes:
- Tambor, com três anos em desenvolvimento e envolvendo cerca de 140 MW de capacidade de eletrolisador. Já tem terrenos assegurados, mais de um ano e meio de medições de vento, e aprovada a viabilidade ambiental, ou VAL, da sua proposta de localização, juntamente com diversos estudos hídricos, ambientais e sociais. Produzirá metanol verde.
- H24U, em desenvolvimento há cerca de 10 meses. É um projeto em escala piloto entre 2,5 e 7 MW de capacidade de eletrolisador alimentado por uma usina solar com conexão à rede, ou variantes disso. Produzirá hidrogênio verde para células de combustível em caminhões de transporte de madeira.
- HIF, em desenvolvimento há cerca de quatro meses. É o maior projeto anunciado, com cerca de 1 GW de capacidade de eletrolisador, e irá produzir e-combustíveis. Ainda está em fase de análise de viabilidade e negociação de condições com a Alur [empresa estatal de biocombustíveis], que fornecerá CO₂ biogênico.
- Existe também um projeto, no norte, que teve seu VAL aprovado. Não está claro qual produto eles comercializarão, mas o VAL fala em 310 MW de energia eólica e 300 MW de energia solar fotovoltaica. É de um grupo econômico bastante conhecido no Uruguai, mas por enquanto entendo que preferem não fazer grandes anúncios.
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