Riscos de inflação elevada no Peru podem adiar cortes nas taxas

O fenômeno El Niño – que traz chuvas e altas temperaturas no norte do Peru e secas no sul – está prejudicando as atividades econômicas em diversas regiões do país, o que gerou um aumento acentuado nos preços da cesta básica.

Embora a inflação acumulada em 12 meses tenha continuado a descer lentamente, de 5,9% em julho para 5,6% em agosto, a inflação de alimentos e bebidas subiu de 10,3% para 11,0%, segundo a agência de estatísticas INEI.

Segundo o Scotiabank, os efeitos do El Niño sobre os preços dos alimentos explicaram quase dois terços da inflação mensal de agosto, de 0,38%. O preço de produtos como limões e abacates aumentou respectivamente 66% e 16% como resultado da seca.

“Isso fez com que a inflação de agosto fosse semelhante à de julho (0,39%), que costuma ser elevada devido a fatores sazonais (pagamento de gratificações e despesas de feriados nacionais). A dinâmica dos preços dentro da cesta básica mostra que a desaceleração da inflação continua estruturalmente lenta”, afirmou o banco em relatório.

Soma-se a isso as restrições ao transporte de mercadorias, que também se refletem no preço da mercadoria final. De acordo com o regulador de transportes Sutran, até o momento, existem 4 estradas bloqueadas devido a fatores climáticos como chuvas e deslizamentos de terra e outras 55 estão com restrições de trânsito. A maioria das estradas com restrições ou bloqueios estão na zona norte (nas regiões de Piura, La Libertad, Cajamarca e Lambayeque).

TAXA DE JUROS

Embora o mercado esperasse que o Banco Central (BCRP) começasse a reduzir a taxa de política monetária antes do quarto trimestre – com uma possível primeira redução em setembro –, o cenário é duvidoso. Agora o Scotiabank está mais cauteloso em relação a uma primeira redução, dados os resultados de agosto.

“Nosso cenário básico considera que o BCRP poderia dar este passo na sua reunião de quinta-feira, 14 de setembro”, afirmou o banco canadense em seu último relatório. “No entanto, os dados de inflação de agosto têm sido ruidosos e a probabilidade de um El Niño mais intenso equilibra a situação em 50%-50%; então, não está tão claro que o BCR iniciará o ciclo de corte em breve”.

Por sua vez, a Credicorp destacou que, após as últimas declarações do presidente do Banco Central, Julio Velarde, “o corte das taxas pode demorar mais para chegar e ser mais gradual”, segundo o seu relatório semanal. A instituição antecipa que a inflação acumulada até o final de 2023 será de 4%. Por outro lado, o Scotiabank prevê que chegará a 5%.