Seca na Argentina começa a atingir empregos enquanto governo luta para conter perdas de receita

O setor privado da Argentina ainda mostra algum crescimento na criação de empregos, mas o setor agrícola começa a sofrer os efeitos da forte seca em todo o país.

A queda na produção agrícola e a consequente queda nas exportações, uma importante fonte de receita pública, também obrigou as autoridades a tentar apoiar o setor para conter a perda de receita.

Em janeiro, quase 6,3 milhões de pessoas estavam empregadas no setor privado da Argentina, informou o CEPA, centro de política econômica com sede em Buenos Aires, citando números do Ministério do Trabalho.

Foram quase 17.500 trabalhadores registrados a mais do que em dezembro, 501 mil a mais do que no ponto mais baixo da pandemia da Covid-19 e 309 mil acima dos níveis pré-pandêmicos.

No caso da agricultura, o número de trabalhadores com carteira assinada aumentou 0,3% em relação a dezembro, mas caiu ligeiramente em relação ao mesmo período do ano anterior, e pode ser acompanhado por mais perdas de postos de trabalho, já que a queda nas receitas afeta as empresas.

“É muito pouco em termos absolutos. Cerca de 5 mil postos de trabalho [menos do que em janeiro de 2022]”, disse o diretor do CEPA, Hernán Letcher, à BNamericas.

Em janeiro, o emprego do setor privado na indústria agrícola estava 1,5% abaixo do ponto mais baixo da pandemia, em junho de 2020, e 3,4% abaixo dos níveis pré-pandêmicos.

O setor financeiro está ainda pior, sendo o único a apresentar queda mensal de trabalhadores com carteira assinada em janeiro, recuando 0,1% em relação a dezembro e 4,1% em relação aos níveis pré-pandemia.

Enquanto isso, o setor de construção cresce, com empregos 43,3% acima do mínimo da pandemia e 18,5% a mais de trabalhadores registrados do que em fevereiro de 2020.

No entanto, como a seca reduz as receitas e impostos nacionais de exportação, as finanças públicas mais apertadas afetarão os fundos disponíveis para obras públicas.

Em termos gerais, a taxa de desemprego na Argentina era de 6,3% no final de 2022, mas a Organização Internacional do Trabalho (OIT) alertou que cerca de 45% dos trabalhadores do país, por volta de 8 milhões de pessoas, são considerados informais.

Em fevereiro, as receitas públicas caíram 8,3% em relação ao ano anterior, para 1,6 trilhão de pesos (US$ 7,6 bilhões), principalmente devido a uma queda de 73% nas receitas de exportação.

Para apoiar os agricultores e amenizar o golpe nas receitas fiscais, o governo federal estabeleceu uma taxa de câmbio preferencial, apelidada de “dólar da soja”, para embarcadores e produtores, para impulsionar as exportações de grãos.

O programa oferece uma taxa de câmbio de 300 pesos por dólar americano para todas as vendas de derivados de soja, o que é significativamente melhor do que a taxa de câmbio oficial de 213 pesos por dólar.

O esquema começou na segunda-feira (10), mas a demanda tem sido baixa até agora, informou a Reuters, citando traders e analistas.