Taxa de referência Selic deve permanecer alta ainda por algum tempo

O Banco Central sinalizou que provavelmente manterá a taxa Selic alta por um período prolongado, pois ainda vê riscos associados à inflação, apesar da recente desaceleração no aumento de preços.

“A taxa de juros tenderá a se manter nos altos níveis atuais pelo menos até agosto de 2023 e, com o ciclo de flexibilização durante o segundo semestre do ano que vem, a Selic tenderá a cair para encerrar o próximo ano em 11,75%”, disse Luis Otavio Leal, chefe economista do Banco Alfa, à BNamericas.

A autoridade monetária manteve a Selic inalterada em 13,75% na noite de quarta-feira (26).

"O comitê [de política do Banco Central] permanecerá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por um período suficientemente longo será capaz de garantir a convergência da inflação", afirmou em comunicado.

“O comitê reforça que vai perseverar até que não apenas o processo de desinflação seja consolidado, mas também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O comitê ressalta que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajustes caso o processo de desinflação não prossiga conforme o esperado.”

No início de 2021, a Selic estava em 2%, a menor da história, mas o Banco Central foi obrigado a aumentar a taxa de forma agressiva desde então para conter a inflação, que no início deste ano estava em dois dígitos, bem acima do alvo da autoridade monetária.

Embora a pressão inflacionária tenha abrandado nos últimos meses, nem o Banco Central, nem os agentes de mercado estão convencidos de que isso se sustente no médio prazo, uma vez que a queda recente da inflação deveu-se às medidas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro para reduzir impostos e conter o aumento dos preços dos combustíveis na tentativa de ser reeleito no segundo turno neste domingo.

Ambos os candidatos à eleição, o direitista Bolsonaro e o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, disseram durante a campanha que manterão programas sociais para famílias de baixa renda no próximo ano, o que tenderá a aumentar os gastos públicos e gerar pressão inflacionária adicional.

“O Banco Central enviou uma mensagem indireta a quem assumir a presidência a partir de janeiro de 2023 de que se houver mais gastos do governo, não hesitará em manter os juros em patamares elevados, ou mesmo aumentar o benchmark”, disse Leal.

A inflação acumulada em 12 meses em meados de outubro foi de 6,85%, bem acima da meta do Banco Central de 3,5% para este ano.

Mesmo os líderes industriais, que normalmente criticam a postura do Banco Central sobre altas taxas de juros, reconhecem ser importante que o governo envie um sinal claro sobre o controle fiscal para evitar o aumento da inflação.

“Para permitir uma redução mais intensa da taxa de juros, é importante controlar os gastos públicos e assumir o compromisso com o equilíbrio fiscal”, disse Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em nota.