Acordo comercial entre UE e Chile terá impacto na economia global do lítio

O acordo comercial atualizado entre União Europeia e Chile contém capítulos destinados a garantir o fornecimento de lítio e hidrogênio verde do bloco europeu, à luz de medidas da China e dos EUA que podem prejudicar seu setor de fabricação de baterias e impedir a transição energética.

Cerca de 20 anos após a conclusão do acordo comercial original entre UE e Chile, as negociações para um novo e mais amplo Acordo-Quadro Avançado que reduz a maioria das tarifas comerciais entre as duas partes foram concluídas neste mês. O documento deverá ser assinado em novembro de 2023 e a sua entrada em vigor está prevista para 2024.

O lítio chileno, um dos pontos-chave abordados pelo novo acordo, é crucial para cumprir os objetivos do acordo verde da UE.

Em 2020, cerca de 80% das importações de lítio do bloco vieram do Chile, mas “a demanda e a competição pelo lítio explodirão globalmente na próxima década. O acesso restrito ao lítio ameaça o futuro da produção de baterias da UE e pode levar o bloco a tornar-se dependente de outros produtores de baterias, como a China”, afirmou a Comissão Europeia em um relatório sobre o acordo.

A China controla 60% do refino global de lítio e cobalto, bem como 80% da capacidade global de fabricação de baterias.

Sob o acordo, o Chile fornecerá à UE acesso a matérias-primas como lítio e cobre, além de combustíveis limpos como hidrogênio verde e energia renovável.

O Chile é o maior produtor mundial de cobre e o segundo maior fornecedor de lítio.

O acordo comercial também ajudaria a amortecer os efeitos negativos do US Inflation Reduction Act (IRA), que subsidia energia renovável e veículos elétricos de produtores locais ou de países que mantêm um acordo de livre comércio com os EUA, como o Chile, o que exclui europeus empresas.

Até 2030, estima-se que a UE precisará de 18 vezes mais lítio do que consome atualmente e quase 60 vezes mais até 2050, disse Maroš Šefčovič, vice-presidente da UE para relações interinstitucionais e previsões, em um comunicado.

Para o Chile, o acordo apoiaria o crescimento econômico, consolidaria sua reputação internacional como fornecedor de minerais e diversificaria suas exportações de minérios.

Excluindo o cobre, as exportações minerais chilenas cresceram 115% em termos interanuais entre janeiro e novembro. Os embarques de carbonato de lítio cresceram 780%, com arrecadação adicional de US$ 6,24 bilhões, segundo relatório da Direção-Geral de Relações Econômicas Internacionais (Direcon).

A SQM, produtora dominante do Chile, está a caminho de aumentar a produção de carbonato de lítio de 180 mil para 210 mil toneladas por ano até 2024, e a produção de hidróxido de lítio de 40 mil para 100 mil até 2025, de acordo com seu relatório de resultados do terceiro trimestre de 2022.

A participação de mercado da SQM atinge 93% na Ásia, 5% na Europa e 2% na América do Norte. Em 2021, vendeu 86% de sua produção na Ásia, 8% na Europa e 1% na América Latina.

A Albemarle processa lítio do salar de Atacama em La Negra, sua única planta de processamento de lítio no Chile, que está em expansão para produzir 85 mil toneladas por ano de carbonato de lítio para baterias.

Albemarle possui seis fábricas de processamento na Ásia e apenas uma na Europa. Este acordo pode mudar o destino do lítio chileno no mercado global.