Às vésperas das eleições, esfria relação entre Brasil e Venezuela

As relações entre os presidentes do Brasil e da Venezuela têm se deteriorado rapidamente no período que antecede as eleições venezuelanas, previstas para o próximo domingo (28).

“As questões com o cenário político na Venezuela são atualmente a principal preocupação do governo brasileiro, devido ao potencial que este processo eleitoral tem de desestabilizar o cenário político em toda a América do Sul”, disse à BNamericas, Lucas Fernandes, analista político da BMJ Consultores.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva – um aliado tradicional do seu homólogo venezuelano e seu antecessor, Hugo Chávez – criticou abertamente Maduro por suas ameaças em relação às eleições presidenciais.

Lula disse estar “com medo” ante a fala de Maduro que, se perder as eleições, haverá um “banho de sangue” na Venezuela, apelando que respeite o resultado das urnas, que poderão lhe garantir mais seis anos no poder.

Sem citar o nome de Lula, Maduro respondeu que quem tem medo deve “tomar chá de camomila” para se acalmar. Além disso, afirmou que urnas eletrônicas usadas nas eleições no Brasil não são auditáveis.

Este é um tema delicado no Brasil. Durante a eleição presidencial de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro, derrotado por Lula, disse diversas vezes que as urnas eletrônicas não eram confiáveis. Os especialistas sempre refutaram esta afirmação, dizendo que as urnas são de fato auditáveis e não há sinais de fraude.

Pouco depois do discurso de Maduro, a ministra Carmen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), suspendeu um plano para enviar uma equipe técnica que monitoraria as eleições na Venezuela.

“Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país para acompanhar o pleito do próximo domingo”, declarou o TSE em comunicado.

“A Justiça Eleitoral brasileira não admite que, interna ou externamente, por declarações ou atos desrespeitosos à lisura do processo eleitoral brasileiro, se desqualifiquem com mentiras a seriedade e a integridade das eleições e das urnas eletrônicas no Brasil”, acrescentou.

A presença de observadores eleitorais independentes é considerada importante, especialmente para países que estão sob sanções econômicas e comerciais, como a Venezuela.

“O reconhecimento do Brasil da justiça no processo eleitoral na Venezuela tem enorme influência para que outros países também reconheçam este processo”, comentou Fernandes.

Lula e Maduro não haviam entrado em conflito anteriormente, mas as relações ficaram tensas depois que a Venezuela ameaçou invadir a Guiana e anexar a área de Essequibo, rica em hidrocarbonetos.

As tensões na área onde operam as petroleiras internacionais são motivo de preocupação para o Brasil, uma vez que podem desestabilizar a região e levar a uma ação militar dos EUA e/ou do Reino Unido.

Para Fernandes, “Maduro usou a questão de Essequibo como uma narrativa nacionalista durante as eleições para tentar atrair votos. Mesmo se o resultado das eleições for uma vitória sua, mas com uma vantagem muito estreita, que levante questões, talvez Maduro use novamente a questão para tentar mobilizar o povo”.

“Se o candidato presidencial da oposição na Venezuela, Edmundo González Urrutia, vencer as eleições, então esta questão de Essequibo deve ser abandonada, já que Urritia deve adotar uma postura mais diplomática e menos tensa para tentar atrair o máximo apoio possível dos líderes internacionais, inclusive dos EUA e da Europa”, concluiu o analista.