Problemas políticos ofuscam presidente eleito da Guatemala

Apesar de Bernardo Arévalo e seu partido terem sido alvo das autoridades judiciais antes e depois de sua vitória nas eleições, em 20 de agosto, o presidente eleito da Guatemala tomará posse em 14 de janeiro. A crise política, no entanto, pode trazer desafios para ele e para o governo.

A campanha eleitoral foi cercada por interferência judicial, com as autoridades tentando suspender o partido Semilla, de Arévalo, e processá-lo por supostos crimes, entre eles lavagem de dinheiro, situação que o deixou em uma posição desconfortável para iniciar o seu governo.

“O quadro de governabilidade parece negativo desde o início por três aspectos: há um ambiente institucional adverso, aparentemente haveria uma maioria formada pela oposição no Congresso; um sistema judicial eleito durante gestões anteriores, que não parece ter empatia pelo governo; e um sistema em que as autoridades do Ministério Público têm liderado esforços para impedi-lo de assumir o cargo”, disse o analista político Eduardo Núñez, da Guatemala, à BNamericas.

Embora as autoridades nacionais continuem a perseguição, Arévalo tem o apoio da comunidade internacional. Membros do parlamento da União Europeia apresentaram uma moção em 13 de dezembro para aplicar sanções contra funcionários do Ministério Público guatemalteco, como a apreensão de bens e proibições de viagens, inclusive para a procuradora-geral Maria Consuelo Porras Argueta.

No entanto, os possíveis problemas do presidente eleito não terminarão depois de 14 de janeiro, uma vez que o Semilla ainda enfrenta a ordem de um juiz para cancelar seu estatuto jurídico devido a supostas irregularidades relacionadas ao registo de membros.

“O cancelamento do partido não impede que o presidente eleito e os legisladores tomem posse, mas limita a capacidade da sua representação legislativa de agir como um grupo parlamentar regular – eles não poderiam se tornar membros de órgãos de governo ou comitês-chave”, explicou Núñez.

Durante a campanha, Arévalo se comprometeu a implementar um plano anticorrupção rigoroso e prometeu nomear um gabinete de combate à corrupção que apresentaria propostas de reformas legislativas e acordos para aumentar a transparência interna. No entanto, seus planos podem ser difíceis de implementar, considerando os obstáculos que ele enfrenta.

“A questão é como administrar as expectativas de mudança com um mandato muito limitado no que diz respeito à sua capacidade de ter uma presença maior no Congresso e mais presença territorial, e como criar um diálogo dinâmico com atores que têm importância estratégica, como o exército, o setor privado e as instituições religiosas, fatores determinantes para garantir a governabilidade”, avaliou Núñez.

O único aspecto positivo é que, “pelo menos as forças armadas e o setor privado estão atentos ao novo governo e à sua agenda à distância”, acrescentou.