
Como a Vestas está expandindo seus negócios no Brasil

A dinamarquesa Vestas vem colhendo bons frutos dos investimentos em aumento de sua capacidade de produção de turbinas eólicas no Brasil.
Hoje, a fabricante tem cerca de 6 GW instalados e um backlog de pelo menos 3,5 GW, além de mais de 10 GW de contratos de operação e manutenção em carteira no país, com média de 20 anos de duração.
Eric Gomes, diretor sênior de vendas da Vestas no Brasil, conta que a empresa conseguiu, nos últimos anos, ampliar sua base de clientes, indo além de geradores de energia europeus e chegando a importantes players nacionais.
Nesta entrevista, Gomes analisou a trajetória da Vestas no Brasil e as perspectivas locais de negócios.
BNamericas: Quais as principais oportunidades de negócios no Brasil para a Vestas?
Gomes: Antes de responder a esta questão, gostaria de dar um pouco de contexto geral da empresa. A Vestas começou, ainda no século 19, como uma fornecedora de implementos agrícolas na Dinamarca. Na década de 1970, fomos a indústria pioneira da energia eólica, em meio à crise internacional do petróleo. Em 43 anos de indústria eólica, instalamos mais de 84 mil turbinas eólicas em 86 países, com capacidade instalada total de mais de 160 GW em aerogeradores e 140GW em contratos de operação e manutenção.
O Brasil tem 84% de sua matriz elétrica renovável. É um país-chave dentro do contexto global. A Vestas Latam, criada em janeiro de 2022, é uma unidade de negócios independente, com reporte direto para a Dinamarca. Antes disso, éramos uma sub-região dentro de outra unidade de negócios. Esse foi um movimento de aposta na América Latina, onde o Brasil é o principal mercado.
Estamos presentes no Brasil desde 2008, quando abrimos o primeiro escritório. A primeira fábrica foi aberta em 2011, no Ceará. E desde 2016 temos uma nova fábrica, no mesmo estado, para produzir aerogeradores já sob o âmbito das novas regras do Finame [Agência Especial de Financiamento Industrial, programa de financiamento da produção e aquisição de máquinas e equipamentos nacionais credenciados no BNDES]. Três anos depois nós dobramos a capacidade da segunda fábrica.
Hoje, temos cerca de 6 GW de capacidade instalada, entre turbinas de nosso primeiro ciclo de investimentos, que eram as de 2 MW, e as mais recentes, com potência entre 4,2 e 4,5 MW.
Foi um ciclo de investimentos muito profícuo, uma decisão acertada de localizar essa tecnologia V-150. Já comercializamos mais de 8 GW de aerogeradores V-150 de 4,2 ou 4,5 MW, dos quais já executamos 4,5 GW. Então temos um backlog de 3,5 GW ainda em carteira, só em termos de contratos firmes, sem contar outros projetos em que somos preferred suppliers.
A plataforma de 4 MW nos proporcionou esse sucesso comercial por ser versátil e flexível aos diferentes perfis de vento que existem aqui no Brasil.
Todos os nossos contratos são também acompanhados por contratos de operação e manutenção full scope. São cerca de 10 GW de contratos de O&M em carteira, além de 1 GW de O&M envolvendo turbinas de terceiros.
No caso das pás e torres eólicas, nossa estratégia é de outsourcing: temos aliança com terceiros, que produzem com design e tecnologia Vestas.
BNamericas: Quais são os principais contratos em andamento no país ou, pelo menos, os mais recentes?
Gomes: Nesses últimos quatro anos e meio da V-150, conseguimos ampliar nossa base de clientes. Antes, com as turbinas de 2 MW, estávamos mais posicionados com os geradores de energia independentes europeus, como Enel e EDF. Mais recentemente, além de nos mantermos próximos de tradicionais clientes europeus, como EDP e Engie, com quem fechamos o maior contrato da América Latina para o projeto Serra do Assuruá, fechamos alianças com fortes clientes no Brasil, como Casa dos Ventos, Ômega Energia, Votorantim Energia, Brookfield 's Elera Renováveis e PEC Energia, que é uma das principais incorporadoras de projetos no Brasil, além da comercializadora 2W Energia. No terceiro trimestre, assinamos contrato com a Polimix, fabricante de cimento e concreto que possui um braço de energia para autoprodução, com o objetivo de atingir metas de sustentabilidade e descarbonização.
Portanto, temos uma carteira bem ampla e pulverizada.
BNamericas: A Vestas tem planos de crescimento e investimentos no Brasil?
Gomes: Eu diria, se puder resumir, que este é um trabalho contínuo. O mercado brasileiro tem uma especificidade, que é sua política de conteúdo local. Temos sempre que fazer uma boa gestão da cadeia de fornecimento, porque lidamos com uma indústria que é bem específica. Nós precisamos desenvolver mais subfornecedores para diferentes componentes, a fim de melhor gerir os riscos da cadeia de fornecimento.
O mundo tem vivenciado disrupções de cadeias de fornecimento brutais. A pandemia trouxe isso e a guerra na Ucrânia acentuou, gerando desequilíbrios entre oferta e demanda que se refletiram também no Brasil. Então, para ganharmos mais versatilidade, anunciamos, este ano, uma aliança para produzir pás com a LM. Antes a parceria era apenas com a Aeris, com a qual continuamos.
É um ganha-ganha, pois, enquanto geramos melhor gestão de risco da cadeia, geramos mais empregos. Este é outro legado da política de conteúdo local, assim como os processos de controle de qualidade e critérios de segurança, o compartilhamento das melhores práticas e de algumas tecnologias, com toda a cadeia de fornecimento local.
Sobre O&M, nós fechamos, recentemente, um memorando de entendimento com o governo do Rio Grande do Norte para expandir um centro de serviços próximo a Natal, onde também funcionam um centro de treinamento e um armazém. Isto em função da entrada em operação de novos projetos nos próximos anos. Temos contratos de longo prazo – até 28 anos – de O&M, então isto requer uma gestão dessa operação e manutenção, com possibilidade de fornecimento de peças sobressalentes.
Temos outro centro de O&M na Bahia, onde já contamos com uma grande base instalada, com a perspectiva de novos projetos. E temos mais de 10 mil técnicos de campo de O&M, e este é um vetor muito forte de crescimento e geração de empregos no Brasil.
BNamericas: Como está a ocupação das fábricas e unidades de serviço da companhia no país?
Gomes: O que posso dizer é que temos uma carga de projetos suprindo a nossa fábrica até o fim de 2024. E, dentro desta estratégia de outsourcing de pás e torres, mantemos nossos fornecedores bastante ocupados. Também estamos avaliando novos investimentos.
O legado da indústria eólica envolve não só a execução do projeto, que dura entre dois anos e dois anos e meio, mas o contrato de O&M, que pode durar mais de 20 anos. Temos um backlog de O&M full scope com média próxima a 20 anos, para estes 10 GW de turbinas Vestas. Isto proporciona uma perenidade de investimentos e geração de empregos.
BNamericas: Seus produtos contam também com financiamento do Banco do Nordeste [BNB]?
Gomes: O Finame é um regime regido pelo BNDES, que possui uma área de credenciamento que gerencia o financiamento para o setor. Além disso, o BNDES possui uma área de financiamento de projetos.
O BNB é outro agente financiador de projetos eólicos, desde que utilizem turbinas fabricadas sob o Finame. Temos vários projetos que estão sendo ou serão financiados pelo BNB. São nossos clientes que pegam o financiamento com a condição de utilização das turbinas no Finame.
BNamericas: Há muitos desafios logísticos no Brasil, considerando as grandes dimensões dos equipamentos eólicos?
Gomes: Sempre que conversamos com nossos colegas de outros países, a infraestrutura no Brasil aparece como um ponto de preocupação. Existem vários gargalos logísticos no país. Os projetos estão eminentemente localizados no Nordeste, muitos no interior da Bahia. Em alguns desses projetos, a distância de transporte das pás chega a 2 mil quilômetros. Isto, para um europeu, é uma loucura. A Abeeólica [Associação Brasileira de Energia Eólica] faz um importante trabalho de articulação com transportadoras e com a PRF para escoar o transporte das pás, por exemplo. São gargalos que acabaram agravados por crises nos últimos anos. A pandemia coincidiu com um boom de projetos eólicos que vieram na esteira da ‘corrida ao ouro’, com o fim do desconto da TUSD e TUST [taxas de uso dos sistemas de distribuição e transmissão] para projetos renováveis.
BNamericas: A Vestas acredita no potencial do mercado eólico offshore brasileiro?
Gomes: Com certeza. O offshore, em país com 7,5 mil quilômetros de costa e com ventos tão abençoados, não pode ser prescindido.
O ciclo de maturação de um projeto offshore é praticamente o dobro do onshore, considerando-se o início de desenvolvimento do projeto, com a campanha de medição de ventos e licenciamento, e sua implantação. São 12, 15 anos. Isso fora a questão da regulação, que está sendo discutida neste momento.
Vemos o offshore como uma via de expansão da matriz elétrica e energética do Brasil, bem como vetor de uma política industrial que criará empregos qualificados e irá explorar sinergias com as indústrias portuária e de óleo e gás. No horizonte de projetos pensados para o Brasil a partir de 2030, acreditamos que haverá melhor nível de competitividade de projetos no Brasil, e a eólica offshore será uma realidade na matriz brasileira.
Até porque, quando olhamos para a costa do Brasil, estamos falamos de tecnologia bottom fix, fixa no leito do mar, mais barata que a flutuante e que está sendo pensada para o sudeste asiático e alguns países da Europa, por exemplo. Esses 7,5 mil quilômetros são todos bottom fix, isto é, locais com menos de 50 metros de profundidade. É uma tecnologia de instalação mais consolidada.
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