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Interco Trading vê a Argentina como um ‘grande parceiro no GLP’

Bnamericas Publicado: sexta-feira, 03 fevereiro, 2023
Interco Trading vê a Argentina como um ‘grande parceiro no GLP’

No mês passado, a brasileira Interco Trading recebeu o primeiro grande carregamento de gás liquefeito de petróleo (GLP) no Complexo Industrial Portuário de Suape, em Pernambuco.

A carga de 12.500 t foi importada da Argentina por meio de um acordo com a Transportadora de Gas del Sur (TGS) e adquirida por diferentes distribuidoras que atuam no Brasil.

Com forte presença no nordeste do país, a Interco agora pretende expandir seus negócios para as regiões Sul e Centro-Oeste.

Para saber mais sobre os planos de expansão e os negócios com a Argentina, a BNamericas conversou com o diretor-executivo Nicholas Taylor (foto, à esquerda) e o diretor de commodities e trading Marcos Paulo Ferraz (foto, à direita). A entrevista também analisa a possível mudança na política de preços de combustíveis da Petrobras.

BNamericas: Por que a Interco enxerga espaço para atender aos estados do Rio Grande do Sul e Pernambuco com GLP da Argentina?

Ferraz: O Brasil tem quase 25% de dependência externa, sobretudo na região Nordeste. E, no Sul, as duas refinarias [Refap e Repar] não têm produção suficiente para atender a essa região. Então nossa estratégia é levar mais uma opção para as distribuidoras locais.

Taylor: A Refap passará, inclusive, por uma parada de manutenção de dois meses, e já temos um segundo navio fazendo viagens entre Bahia Blanca e Canoas [onde fica a Refap] para compensar essa parada. Planejamos entregar entre 6.000 t e 7.000 t por mês no modal marítimo para ajudar a compensar essa falta de GLP. Entregaremos diretamente às distribuidoras locais.

BNamericas: Há incertezas quanto ao futuro da política de preços de combustíveis da Petrobras no governo Lula. Qual é a opinião de vocês sobre a proposta de formação de preços de referência regionais?

Ferraz: Isso gera preocupação para o abastecimento nacional, não só de GLP, mas de derivados em geral. Se eles querem nacionalizar o preço da molécula no Brasil, temos que ter a garantia de que o que será importado será competitivo de alguma forma. Uma das preocupações é balancear a necessidade de suprimento versus a precificação do derivado.

Taylor: A Petrobras não reajusta o preço do GLP há algum tempo, apesar da alta no mercado internacional. Como, então, justificar a importação com um preço tão superior ao da Petrobras?

BNamericas: Recentemente, uma distribuidora de GLP afirmou que o mercado de combustíveis nos estados do Amazonas e Roraima foi distorcido pela privatização da refinaria Reman [agora Ream], em Manaus. Essa é uma tendência pós-privatizações, já que as plantas da Petrobras não foram originalmente projetadas para competir entre si?

Ferraz: Houve algumas privatizações e elas estão muito regionalizadas. O norte do Brasil é regionalizado em termos de preço. A RLAM [atual refinaria de Mataripe, na Bahia] também. O mercado deveria ser muito mais aberto. O que o governo deveria fazer é um subsídio estatal, não usar uma empresa mista como a Petrobras. Sou um grande defensor de um subsídio do Estado para as camadas sociais que precisam.

Mas, no caso de produtos como gasolina e diesel, a competição vem acontecendo. As grandes distribuidoras têm investido no aumento da capacidade. Já o GLP está em um momento de transição. Há anúncios de construção de novos terminais e outros projetos no Nordeste e no Sul. E isso, de fato, aumenta a competitividade. Mas, para que isso aconteça, é preciso um mercado mais aberto e sem preços artificiais.

No final de 2022, havia um grande risco de desabastecimento de diesel no país. A Petrobras não quer mais ser garantidora do abastecimento, mas sua precificação é bem diferente do mercado externo. Não há clareza sobre a política de suprimento da Petrobras. Será que, afinal, ela fará uma precificação para remunerar seus acionistas, possibilitando que outras empresas supram o mercado, resultando em um mix de 30% importado e 70% nacional, por exemplo? Se for assim, as empresas vão se movimentar.

E ainda há outros pontos que precisariam ser estudados, como o acesso à infraestrutura primária [de abastecimento de combustível]. Hoje elas são altamente reguladas e estão nas mãos da Petrobras.

BNamericas: Analistas preveem redução na capacidade de produção e exportação de gás da Bolívia. Isso cria uma oportunidade para a Argentina?

Ferraz: Quanto ao caso boliviano ainda não sabemos ao certo, porque seus números são mais complexos de se obter, mas há dificuldades em ampliar os investimentos em exploração por lá. A Argentina, por outro lado, tende a ser um grande parceiro no GLP.

Taylor: A Petrobras tem um contrato de longo prazo com a [argentina] Mega, uma joint venture entre a Dow e a YPF. É a segunda maior fonte de GLP importado do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos.

BNamericas: A Interco está planejando investimentos para ampliar sua capacidade de importação de GLP?

Ferraz: Não temos exatamente projetos capex. Somos uma trading que trabalha em parceria com as distribuidoras. O que temos são projetos de ampliação de mercado, não só de GLP, mas de outros gases especiais, como o propelente, usado em aerossóis. Este é um mercado em expansão e com características específicas, sobretudo para questões de saúde. Nos últimos anos, a produção argentina tem sido direcionada para o Brasil, que não tem produção própria de propelente.

BNamericas: Vocês usam navios e caminhões de terceiros para trazer GLP para o Brasil?

Taylor: Contratamos uma frota de armadores estrangeiros ou transportadores brasileiros para o transporte rodoviário. A Argentina tem certas limitações de exportação, então contratamos no mercado spot, contratações avulsas de navios ou carretas para não corrermos o risco de ficar sem molécula. A tendência é que, em 2024, a Argentina tenha superávit [de oferta de gás] durante todo o ano.

Ferraz: A Argentina está fazendo um grande investimento para trazer gás de Vaca Muerta para atender ao seu mercado. O duto deve entrar em operação entre o final deste ano e o início do próximo, o que nos dará mais flexibilidade para importar.

Taylor: Poderemos fazer contratos de dois ou três anos com preços inferiores aos do mercado spot, com garantia de suprimento.

BNamericas: Que outras iniciativas vocês estão estudando no Brasil?

Ferraz: Estamos desenvolvendo projetos de fertilizantes para abastecer o mercado de ureia no Centro-Oeste. Um dos maiores produtores de ureia do mundo é a Rússia, que está sob sanções, dificultando o abastecimento do mercado. Então estamos desenvolvendo isso com a Bolívia.

Taylor: O gás natural no Brasil é caro e é usado nesse processo. Por isso, estamos trabalhando em operações de ureia com preços mais competitivos.

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