MercadoLibre aumentará investimentos em logística no México

O gigante latino-americano de comércio eletrônico MercadoLibre espera aumentar os investimentos em logística e remessas em mercados regionais onde essas áreas estão próximas da saturação, disseram executivos.

“Estamos operando perto do pico de utilização em algumas de nossas geografias em termos de nossa logística e capex – centros de atendimento logístico e centros de triagem. Portanto, prevemos alguns investimentos incrementais quando olhamos para 2023 versus 2022 em termos de capex, principalmente na frente logística, à medida que construímos a capacidade incremental de que precisamos em alguns mercados, principalmente no México”, disse o CFO Pedro Arnt aos investidores em uma chamada de resultados.

Apesar disso, o México é o país onde o MercadoLibre tem o maior índice de logística ponta a ponta para os lojistas – o chamado formato de fulfillment.

Segundo Arnt, o México ultrapassou no quarto trimestre a marca de 70% dos embarques partindo de um dos centros de atendimento locais da empresa. Isto se compara a 40% no Brasil, maior mercado da empresa, e a mais de 30% no Chile, enquanto Colômbia e Argentina seguem crescendo.

“Acredito que há uma combinação de dinâmica de mercado, perfis de comerciantes e execução que levou o México a estar tão à frente dos outros mercados”, ele acrescentou.

Espera-se que o outro pilar de investimento chave do MercadoLibre – desenvolvedores e criação de produtos – desacelere, à medida que os custos aumentam e o grupo antecipa maiores dificuldades na contratação e retenção de desenvolvedores.

Arnt chamou o MercadoLivre de ilha, em referência às demissões que estão abalando empresas de tecnologia locais e globais.

O MercadoLibre, segundo ele, não tem planos de cortar pessoal, mas de expandi-lo, embora a velocidade de contratações incrementais deva diminuir.

“Creio que ainda estamos indo contra a maioria dos outros porque continuamos a contratar, mas provavelmente em um ritmo um pouco mais comedido do que temos adicionado engenheiros nos últimos anos”, disse Arnt. “Não há necessidade de redução porque nos mantivemos disciplinados nos últimos anos.”

Ao todo, o MercadoLibre investiu US$ 455 milhões no ano passado, uma queda de 27,7%. O capex do quarto trimestre caiu para US$ 122 milhões, ante US$ 196 no mesmo trimestre de 2021.

Segundo Arnt, a perspectiva atual é de aumento do capex líquido em 2023.

CRÉDITO

A empresa planeja entrar em novos mercados por meio de sua fintech MercadoPago e plataforma de pagamentos. Um desses mercados é o financiamento de veículos, inicialmente no Brasil.

“Ainda é muito, muito, muito pequeno. Estamos apenas testando-o no Brasil. Acreditamos que seja interessante porque tem uma forte sinergia com o nosso mercado”, disse o CEO do MercadoPago, Oswaldo Gimenez, sobre um piloto no Brasil.

A empresa está preparada para agir com mais cuidado em relação ao crédito, no entanto, dado o ambiente de crédito ao consumidor mais restritivo e adverso ao risco, de acordo com Arnt.

O MercadoLibre também planeja lançar no México este ano seu negócio de cartões de crédito.

ANO MARCO E PERSPECTIVAS PARA 2023

O ano de 2022 foi repleto de “novidades” para o MercadoLibre, segundo o grupo.

A empresa processou mais de US$ 100 bilhões em pagamentos, registrou mais de US$ 10 bilhões em receitas líquidas, despachou mais de 1 bilhão de itens por meio do Mercado Envios e ultrapassou US$ 1 bilhão em receita operacional – tudo pela primeira vez em sua história.

No geral, a receita líquida atingiu US$ 10,5 bilhões no ano e US$ 3 bilhões no trimestre, superando os US$ 7,06 bilhões de 2021 e US$ 2,13 bilhões do quarto trimestre de 2021.

O MercadoLibre espera um cenário competitivo em rápida mudança, sobretudo no Brasil.

“Acredito que a área em que operamos, tanto comércio de consumo quanto fintech e especificamente as áreas de tecnologia, são mercados de baixa barreira de entrada e alta competitividade que geram situações e estruturas de mercado extremamente dinâmicas”, afirmou Arnt.

O Brasil está atraindo players do comércio asiático, como Shopee e Shein, que vêm ampliando sua participação de mercado por meio do boca a boca, preços baixos e altos investimentos em logística.

“A qualidade de nossos produtos e nossa tecnologia permaneceram incrivelmente consistentes ao longo do tempo. E taticamente tentamos nos adaptar muito rapidamente às mudanças da dinâmica do mercado, à mudança da dinâmica tecnológica e dos hábitos de consumo”, complementou, sem entrar em detalhes.

O MercadoLibre encerrou o ano com 148 milhões de usuários ativos, cerca de 8 milhões a mais do que em 2021, considerando todos os seus serviços de comércio e fintech. No trimestre, o volume total de pagamentos atingiu US$ 36 bilhões, um aumento interanual de 80% em uma base neutra de câmbio, liderado principalmente pelo México.

A reabertura das lojas físicas após a pandemia não afetou significativamente as taxas de crescimento de usuários e engajamento da empresa, apenas desacelerou o ritmo de penetração da pandemia, segundo os executivos.

“Ainda sentimos que é cedo em termos de mudança do varejo offline para o online”, concluiu Arnt. “Os consumidores encontraram em suas compras online uma proposta de valor atraente o suficiente [e] o consumo permaneceu online.”