Minas do sul do Peru são as mais afetadas pelos protestos

A escalada dos protestos antigovernamentais no Peru e a limitada capacidade das autoridades para resolver os conflitos sociais estão afetando o transporte de minérios no sul do país e pressionando a capacidade de armazenamento das minas.

Além das perdas econômicas decorrentes da paralisação do setor, os problemas afetarão seriamente as exportações da mineração em janeiro e a produção de cobre é a que mais corre risco.

Interrupções de tráfego foram relatadas em vários pontos do Corredor Sul de Mineração, que conecta minas como Las Bambas, Constancia e Antapaccay com o terminal portuário Matarani na região de Arequipa, bem como distúrbios dentro ou ao redor das próprias operações de mineração.

O último incidente grave foi um ataque direto às operações de Antapaccay, onde veículos da empresa foram queimados e a área do acampamento de mineração danificada.

Controlada pela Glencore, a mina anunciou que iniciará um processo de evacuação de funcionários – cerca de 2.400 pessoas entre trabalhadores diretos e terceirizados – e manterá apenas o pessoal essencial.

Las Bambas, por sua vez, não consegue transportar cobre desde 3 de janeiro, segundo informações fornecidas pelo Instituto de Engenheiros de Minas do Peru (IIMP). Membros da comunidade de Apurímac recentemente ameaçaram incendiar as operações e o acampamento da empresa.

Erick Ramos, diretor do sindicato dos trabalhadores da mina, disse à TV Perú que Las Bambas será obrigada a paralisar suas operações. “Nesta última semana, nenhum tipo de insumo entrou na unidade. A permanência dos trabalhadores [no acampamento da mina] vai ser insustentável. Estamos aguardando o tráfego ser restabelecido”, destacou ele ao veículo local.  

A mina Constancia, da canadense Hudbay, é a única grande operação de cobre que não sofreu grandes incidentes em suas operações, exceto por não conseguir transportar seus concentrados. As três minas mencionadas representam cerca de 30% da produção peruana de cobre, segundo a Sociedade Nacional de Mineração, Petróleo e Energia (SNMPE).

Na região de Puno – epicentro virtual dos protestos mais violentos, com cerca de 20 mortos e inúmeros feridos –, não só operações importantes foram paralisadas, mas também projetos em fase exploratória.

A Minsur, empresa do grupo peruano Breca, decidiu interromper preventivamente as atividades de sua mina de estanho San Rafael, na província de Melgar.

Por outro lado, Macusani Yellowcake – uma subsidiária da American Lithium que explora lítio e urânio em Puno – informou que interrompeu os estudos hidrogeológicos do projeto de lítio Falchani devido aos protestos.

“No dia 10 de dezembro [de 2022] paramos as operações, porque os líderes das rondas camponesas locais nos disseram que não queriam entrar em conflito com as rondas provinciais. Vamos parar as operações durante todo o mês de janeiro, porque podem vir rondas de outras áreas e interromper as atividades”, disse o gerente geral da Macusani Yellowcake, Ulises Solís, ao canal peruano Gestión.