Retorno de Lula abre janela de oportunidades para infraestrutura argentina

O retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência no Brasil oferece à Argentina uma oportunidade de desenvolver sua infraestrutura comercial e reatar as relações entre os dois países, que se deterioraram nos últimos anos, de acordo com o think tank econômico CEPA, de Buenos Aires.

Lula teve seu primeiro encontro com o presidente argentino Alberto Fernández nesta segunda-feira (23), antes da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), que acontece esta semana na capital argentina.

Durante o mandato anterior de Lula como presidente (2003-2011), que coincidiu com a primeira metade da presidência dos Kirchners na Argentina (2003-2015), a relação entre Brasil e Argentina foi marcada pelo crescimento do comércio bilateral e por uma “forte integração regional”, segundo um relatório do CEPA.

A relação esfriou após a saída de Lula e começou a se deteriorar ainda mais depois que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, em 2019, a ponto de o Brasil ser substituído pela China como principal parceiro comercial da Argentina em 2020.

Segundo o CEPA, isso foi causado pela má reputação internacional do governo Bolsonaro, pelos efeitos da pandemia de Covid-19 sobre o comércio internacional e pelas mudanças na política de produção da Argentina após a vitória de Fernández, no final de 2019.

A volta de Lula, porém, já é um bom presságio para a infraestrutura argentina. No início deste mês, o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, revelou detalhes de um acordo que Lula e Fernández fecharão esta semana.

O acordo incluirá financiamento do banco de desenvolvimento brasileiro BNDES para a segunda etapa do gasoduto Néstor Kirchner, além de medidas para impulsionar o comércio entre as duas nações.

Nessa esfera, o CEPA afirmou que a relação revitalizada entre Brasília e Buenos Aires abre portas para melhorias também na infraestrutura relacionada ao comércio.

No entanto, o chefe do CEPA, Hernán Letcher, disse à BNamericas que ainda não há projetos de infraestrutura bilateral confirmados na agenda, embora Brasil e Argentina estejam construindo uma ponte internacional de US$ 40 milhões sobre o rio Uruguai.

O setor de infraestrutura da Argentina também está enfrentando um início de ano difícil, devido à volatilidade nos custos de materiais de construção e a problemas de financiamento do ano passado. Empresas focadas em obras públicas preveem que a atividade continuará no mesmo nível ou diminuirá ainda mais nos primeiros meses de 2023.

Ao mesmo tempo, a janela de oportunidade para a Argentina pode durar pouco, já que o país realizará eleições gerais este ano e a coalizão governista Frente de Todos está diante de uma batalha difícil, bem atrás da coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio nas pesquisas. Ainda não está claro se Fernández vai concorrer à reeleição.