Os dilemas da mineração na Bolívia
A Bolívia possui uma diversidade de recursos minerais, incluindo grandes depósitos de lítio, mas não tem conseguido aproveitá-los, apesar da importância deste setor para a economia do país andino.
O governo de Luis Arce está tentando desenvolver a indústria do lítio para transformar o país em um grande fornecedor mundial, mas tem enfrentado problemas, incluindo obstáculos legislativos que impedem a empresa estatal de mineração YLB de fazer parcerias com empresas privadas para processar salmouras das vastas salinas e extrair o metal branco.
Embora mais de 50% das exportações da Bolívia provenham da mineração, a exploração está em falta, não há descobertas de novas jazidas e existe uma escassez de investimento estrangeiro no setor, que é constantemente afligido por problemas sociais.
A BNamericas conversa com Héctor Córdova, ex-vice-ministro de Desenvolvimento Produtivo de Mineração e Metalurgia, sobre o atual estado da atividade mineradora no país andino e os desafios que ela enfrenta.
BNamericas: Como está a atual situação da mineração na Bolívia?
Córdova: A Bolívia explora principalmente ouro, prata, estanho, chumbo e zinco, que representam mais de 90% da produção, mas existem vários minerais secundários como antimônio, bismuto, tungstênio, ferro, cobre, cádmio, potássio e magnésio, entre outros.
Na Bolívia temos três players de mineração ativos: cooperativas, empresas privadas e a empresa estatal. A maior parte da produção mineral da Bolívia provém de empresas privadas, com 58%; em segundo lugar estão as cooperativas, com 40%; e o restante, da estatal Comibol.
Há alguns anos, as grandes empresas privadas que atuavam na Bolívia saíram e foram substituídas por empresas juniores, com investimentos muito menores. Entre as empresas que saíram estão a Glencore e a Sumitomo.
Atualmente, entre as principais empresas que operam na Bolívia estão a Minera Santa Cruz; Minera San Cristóbal, que foi constituída na Bolívia para comprar as ações da Sumitomo; e a New Pacific, que opera perto de Potosí, em Colavi, e já fez um investimento significativo na exploração de zinco, chumbo, prata e estanho. Além disso, a empresa explora em Oruro, em Tarangas, onde encontrou um bom depósito de ouro.
BNamericas: Com a grande riqueza de minérios que a Bolívia possui, por que a atividade não decolou e por que grandes empresas deixaram o país?
Córdova: A mineração entrou em recessão em 1985, quando houve queda nos preços no mercado internacional, embora tenha se recuperado um pouco em 2005.
Há quatro anos, a mineração é o principal setor econômico da Bolívia. Mais da metade das exportações provém deste setor e mais da metade das exportações correspondem a ouro. Nos últimos dois anos, as exportações minerais bateram recordes.
Infelizmente, o país não atrai investimento estrangeiro, especialmente se comparado com países como Chile, Peru ou Argentina, devido à insegurança jurídica em nosso país.
Na Bolívia existem muitas leis, mas o comportamento tanto das autoridades quanto das comunidades e cooperativas deixa muito a desejar. É por isso que os investidores não se animam a vir. Eles não acreditam que recuperarão o seu investimento e que ele será respeitado, pois houve ações que impediram a chegada de capitais privados.
BNamericas: Em que fase é necessário mais investimento privado para garantir a sustentabilidade da atividade?
Córdova: Basicamente na primeira etapa, que é a exploração, para garantir a sustentabilidade das operações mineradoras.
Nesta fase, o Estado não pode substituir as empresas privadas, e aqui temos uma grande fragilidade porque as jazidas que estão sendo exploradas vão se esgotar e não seremos capazes de manter a nossa atividade mineradora no futuro.
Esse é um ponto fraco. O governo tem de garantir estabilidade ao setor privado.
BNamericas: Quais são as vias no médio e longo prazo para melhorar a segurança jurídica e oferecer estabilidade ao investidor?
Córdova: É uma situação bastante complicada porque há muitos players. Existem comunidades que extorquem, exigem muitas coisas das empresas privadas; cooperativas que não têm capital para investir invadem [assumem o controle ilegal e violento] as minas para operá-las; e os sindicatos têm se fortalecido de maneira impressionante nos últimos 20 anos e adquirido uma força enorme que pode fazer qualquer um recuar.
Por fim, há a atitude dos governos nos últimos 20 anos, embora agora existe uma atitude mais clara, porque em cada Primeiro de Maio dos anos anteriores, era anunciado o que seria nacionalizado, e isso assustava a todos.
Nos últimos anos, apenas a jazida de prata Mallku Khota, operada pela empresa canadense South American Silver, foi nacionalizada [em 2012, durante o governo do presidente Evo Morales], mas os anúncios de nacionalizações, embora não tenham se materializado, criaram medo e insegurança
BNamericas: Como está a situação do lítio agora?
Córdova: Estamos em uma grande incerteza.
O projeto que esteva em andamento até 2019, sob a responsabilidade da YLB, foi interrompido pela pandemia e pelas mudanças de governo que tivemos. O atual governo tentou mudar para a tecnologia de Extração Direta de Lítio [EDL], pensando que seria muito rápido, o que implicou no abandono do projeto anterior de piscina de evaporação.
Devido a esse abandono, não há matéria-prima suficiente nem para a planta de cloreto de potássio nem para a planta de carbonato de lítio.
O método EDL foi testado em laboratório, mas sequer foi realizado em plantas-pilotos.
O governo criou expectativas de que melhoraria muito o processo. Com base nessa esperança, abandonou o antigo projeto, que funcionou, embora não da forma mais eficiente.
O governo procurou parceiros, e uma empresa chinesa e uma russa chegaram para trazer a tecnologia de EDL, mas, como a legislação boliviana proíbe a YLB de formar parcerias com empresas privadas para processar a salmoura e obter a matéria-prima de carbonato de lítio, os acordos não podem ser traduzidos em contratos. Estamos paralisados enquanto a lei não for modificada.
BNamericas: Existe alguma possibilidade de a lei ser modificada?
Córdova: A lei não será modificada facilmente, porque é uma espécie de princípio de honra do partido no poder. Estamos estagnados nesse ponto.
Agora, o governo diz que serão feitos apenas testes-pilotos, e os acordos foram feitos com empresas para construir plantas-pilotos e definir a tecnologia; no entanto, chegar ao nível industrial dessas plantas leva anos e, enquanto isso, o governo deveria ter mantido ativo o antigo projeto das piscinas.
O projeto do lítio está à deriva neste momento.
BNamericas: Ou seja, por enquanto não há uma solução clara?
Córdova: Não, infelizmente. Proponho que o antigo projeto seja reiniciado para obter cloreto de potássio e carbonato de lítio, que gerarão os recursos necessários.
Tenha acesso à plataforma de inteligência de negócios mais confiável da América Latina com ferramentas pensadas para fornecedores, contratistas, operadores, e para os setores governo, jurídico e financeiro.
Notícias em: Mineração e Metais (Bolívia)
Eloro Resources intersecta significativa mineralização de estanho na propriedade Mina Casiterita, Bolívia
Eloro Resources intersecta significativa mineralização de estanho na propriedade Mina Casiterita, Bolívia.
Cúpula da Amazônia termina sem consenso sobre exploração de petróleo
Representantes de Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela delinearam medidas de conservação, mas se abstiveram de ar...
Assine a plataforma de inteligência de negócios mais confiável da América Latina.
Outros projetos em: Mineração e Metais
Tenha informações cruciais sobre milhares de Mineração e Metais projetos na América Latina: em que etapas estão, capex, empresas relacionadas, contatos e mais.
- Projeto: Expansão da usina QB2 (QBME) (antigo projeto Quebrada Blanca fase III)
- Estágio atual:
- Atualizado:
daqui a 4 horas
- Projeto: El Tofo
- Estágio atual:
- Atualizado:
daqui a 3 horas
- Projeto: Serra Sul 120 (Expansão de Carajás S11D)
- Estágio atual:
- Atualizado:
1 hora atrás
- Projeto: Estruturas de Disposição de Rejeitos 9 (EDR9)
- Estágio atual:
- Atualizado:
2 horas atrás
- Projeto: Acima das Rochas
- Estágio atual:
- Atualizado:
1 hora atrás
- Projeto: Remoção da Barragem Pérez Caldera e adaptação do Recurso Hídrico (Projeto de Modificação da Instalação Los Bronces)
- Estágio atual:
- Atualizado:
2 horas atrás
- Projeto: Expansão de Bayóvar
- Estágio atual:
- Atualizado:
19 horas atrás
- Projeto: Projeto de argila iônica PCH
- Estágio atual:
- Atualizado:
20 horas atrás
- Projeto: Jaguar
- Estágio atual:
- Atualizado:
20 horas atrás
- Projeto: Expansão de Aurizona
- Estágio atual:
- Atualizado:
24 horas atrás
Outras companhias em: Mineração e Metais (Bolívia)
Tenha informações cruciais sobre milhares de Mineração e Metais companhias na América Latina: seus projetos, contatos, acionistas, notícias relacionadas e muito mais.
- Companhia: Yacimientos de Litio Bolivianos  (YLB)
-
A Yacimiento de Litio Bolivianos (YLB), criada em 2017, é uma empresa estatal descentralizada, dependente do Ministério da Energia da Bolívia, que se encarrega de desenvolver a ...
- Companhia: Bolivia Altius S.R.L.  (Altius Bolivia)
- Companhia: Corporación Minera de Bolivia  (COMIBOL)
-
A estatal Corporación Minera de Bolivia (Comibol) administra as participações do Estado em concessões de mineração e plantas metalúrgicas e industriais por meio de joint venture...
- Companhia: Minera Granville S.R.L
- Companhia: Empresa Siderúrgica del Mutún  (Empresa Siderúrgica del Mutún (ESM))
-
A mineradora estatal boliviana Empresa Siderúrgica del Mutún (ESM) foi criada em 2005 sob a direção do ministério de mineração e metais. A empresa está focada na operação da min...
- Companhia: Colquehuasi S.R.L.  (Colquehuasi)
- Companhia: Cumbre del Sajama S.A
- Companhia: Tierralta Ingenieria & Ciencias Ambientales