Moody’s: nova Constituição pode abalar setor de infraestrutura do Chile

A nova Constituição do Chile pode afetar os processos de financiamento e licenciamento de projetos de infraestrutura, segundo analistas da agência de classificação Moody’s.

Há dúvidas sobre como certas cláusulas da nova Carta Magna afetarão o sistema financeiro em geral, enquanto os artigos no texto que visam aumentar a participação cidadã podem estender os prazos necessários para que os projetos consigam licenças.

Embora o projeto de texto não inclua medidas para intervir nos mercados ou reduzir a autonomia do Banco Central, há uma falta de clareza sobre quantos dos novos direitos sociais serão financiados ou como o atual sistema de pensões será afetado.

“Os fundos de pensão sempre foram a principal fonte de financiamento de longo prazo para os bancos”, disse Felipe Carvallo, vice-presidente sênior de crédito do Moody’s Financial Institutions Group, durante um webinar realizado pela agência sobre os possíveis impactos econômicos da nova Constituição.

Apesar do presidente Gabriel Boric ter declarado que não apoiará novos saques dos fundos de pensão, Carvallo observou que os saques anteriores resultaram em redução da liquidez do sistema financeiro doméstico.

Em uma observação semelhante, Daniela Cuan, analista sênior e vice-presidente do Moody’s Global Infrastructure Finance Group, afirmou que o menor acesso ao financiamento pode afetar projetos menores, enquanto um cenário externo mais adverso afetaria projetos maiores que acessam financiamento internacional.

“Há projetos de investimento menores que foram financiados nos mercados locais e, se esse financiamento encolher, as taxas de juros aumentarem e o acesso ao mercado ficar mais complicado, pode ser um desafio para os setores de infraestrutura”, destacou ela.

De acordo com Cuan, essas questões de financiamento também podem afetar as concessões, quando questionada pela BNamericas.

Ela também disse que o aumento da participação dos cidadãos, conforme está descrito no projeto da Constituição, pode ter um efeito sobre o setor.

“Um dos impactos possíveis são os custos mais altos, não apenas econômicos, mas também em termos de tempo. Isso pode aumentar a burocracia nos projetos e no processo de aprovação dos estudos ambientais”, completou.

REFERENDO

O cenário-base da Moody’s para o referendo de 4 de setembro é que os chilenos votarão a favor da nova Constituição, de acordo com William Foster, vice-presidente sênior de risco soberano da agência.

Pesquisas recentes mostraram que os eleitores que dizem que vão rejeitar a proposta atualmente superam os apoiadores, mas também apontam para um grande número de eleitores indecisos.

Questionado pela BNamericas sobre a possibilidade de os eleitores rejeitarem a nova Constituição, Foster admitiu que isso criaria um novo risco para o rating soberano do Chile, pois desencadearia uma nova onda de instabilidade política.

“Isso vai criar mais incerteza, mas não vai impedir os desejos das pessoas. Elas querem mais apoio do governo”, disse ele durante uma entrevista coletiva realizada após o webinar.