Bukele é criticado por falta de transparência sobre presídio

A estratégia de segurança pública do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, voltou a ser criticada depois que veículos de imprensa locais e internacionais apontaram questões de transparência relacionados ao único megapresídio do país.

Batizado de Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), o presídio faz parte da guerra de Bukele contra as poderosas gangues criminosas do país.

O complexo, localizado em Tecoluca, foi inaugurado no final de janeiro para abrigar até 40.000 detentos. Porém, desde que Bukele anunciou o projeto como uma grande conquista de seu governo, quase nenhuma informação foi divulgada sobre a unidade.

“Tudo aquilo relacionado à segurança pública, não só informações sobre gastos, mas os planos, os índices e os resultados, são informações sigilosas”, disse Wilson Sandoval, coordenador do centro de assessoria anticorrupção ALAC, ao jornal local La Prensa Gráfica. “Tudo está em uma caixa preta, não sabemos o que acontece lá dentro em relação a finanças ou à tomada de decisões, então não há possibilidade de exigir responsabilização sobre a forma como as coisas são feitas.”

“As instituições públicas estão cometendo abusos porque sabem que estão protegidas”, afirmou Eduardo Escobar, analista da ONG Acción Ciudadana, ao jornal.

Em 24 de fevereiro, o governo anunciou que 2.000 indivíduos haviam sido transferidos para o presídio, seguidos por outros 2.000 em 15 de março.

A identidade dos detentos não foi divulgada pelo governo. A BBC noticiou recentemente que alguns familiares conseguiram identificar parentes em vídeos postados nas redes sociais.

Questões de direitos humanos

Se a unidade atingisse a capacidade total de 40.000 pessoas, cada cela abrigaria 156 indivíduos.

Segundo as autoridades, cada detento teria um espaço de 2,5 m², enquanto o Comitê Internacional da Cruz Vermelha recomenda 3,4 m². No entanto, com base nas plantas de construção obtidas, a BBC estima que o espaço será de apenas 0,58 m².

Ao inaugurar o complexo, o vice-ministro da Justiça e diretor do estabelecimento penal, Osiris Luna, também informou que os internos não terão visitas familiares.

“Trata-se de um matadouro de concreto e aço, onde há um plano perverso para eliminar pessoas sem usar oficialmente a pena de morte”, disse à BBC Miguel Sarre, ex-membro do Subcomitê para a Prevenção da Tortura (SPT) da ONU.

“A falta de comunicação com a família faz com que a pena se estenda a pessoas inocentes”, completou ele.