Peru: Cresce pressão por eleições este ano

O alto nível de rejeição à gestão da presidente Dina Boluarte, aliado à desaprovação do Congresso, aumenta a probabilidade de o Peru realizar eleições gerais este ano.

Os protestos contra o governo causaram a primeira morte civil em Lima no fim de semana, elevando o número de mortos para 65 desde que as manifestações começaram, em dezembro.

Enquanto isso, bloqueios de estradas, tomada de aeroportos e confrontos entre manifestantes e policiais paralisaram as operações de grandes, médias e pequenas empresas.

O Congresso rejeitou na última sexta-feira (27) o adiantamento das eleições para outubro deste ano, como havia pedido o governo Boluarte. No entanto, os parlamentares devem debater a proposta outra vez, dada a gravidade da crise.

Três das principais pesquisas de opinião do Peru – Ipsos, IEP e CPI – indicam que a presidente Boluarte tem uma taxa de desaprovação de mais de 70%. Levantamentos da CPI e do IEP sugerem que a reprovação no sul do país – onde se registram os maiores distúrbios – chega a 88%.

A rejeição também fica evidente ao observar o total de cidadãos que pedem a renúncia da presidente: 74%, segundo o IEP, e 63%, segundo a CPI.

O trabalho do Congresso também não é bem visto. Segundo o IEP, a rejeição é de 89%.

Em relação à percepção dos responsáveis diretos pela crise, a CPI aponta que mais de 30% da população acredita que a presidente é a principal culpada pelos protestos e a violência, seguida pelo Congresso (11%) e pelos servidores do Estado (11%).

ANÁLISE

Considerando o cenário atual de violência, bloqueios e repressão, a realização das eleições em outubro parece ser a única forma de mitigar a crise.

Mais de 70% da população é a favor do adiantamento das eleições para 2023. Na metade de janeiro, esse percentual era de 52%, segundo a Ipsos.

Adiantar as eleições para abril de 2024, a primeira proposta considerada, não parece mais aconselhável: apenas 20% da população é a favor da medida. E, segundo a CPI, quase ninguém (0,5%) é a favor da permanência do governo e dos parlamentares até 2026, ano em que seria encerrado o mandato de Pedro Castillo e do parlamento.

Javier Albán, advogado constitucional e analista eleitoral, considera que, se as eleições forem realizadas este ano, o mandato dos eleitos deve durar até 2026 para completar o período que corresponderia a Castillo. Caso contrário, “implicaria a eleição de governantes com as mesmas regras e representações políticas para os próximos cinco anos. Estariam assegurando que a crise se perpetuasse”, disse ele à BNamericas.

O analista recomenda que o período entre 2024 e 2026 seja um momento de transição com a realização de reformas políticas. “Não é uma saída segura, mas, levando em conta a contingência, pode ser uma válvula de escape.”

Quem quer que sejam os candidatos, as pesquisas indicam que o eleitorado peruano favoreceria uma opção presidencial de centro ou centro-direita, após a gestão fracassada do esquerdista Castillo.

A CPI aponta que, se as eleições forem realizadas agora, 28% da população votaria em um candidato de centro, enquanto 23% optaria por um candidato de direita moderada. A porcentagem que apoiaria um candidato da esquerda moderada é de apenas 13%.